Muito se tem questionado acerca do rumo que
a Igreja Católica deve tomar nos tempos modernos. As mudanças
trazidas pelo Concílio Vaticano II, numa tentativa de modernizar
a Igreja, levou alguns católicos a pensar que os costumes
anteriores estariam totalmente ultrapassados. E, não se pode
negar, hoje o estudo dentro da Igreja foi colocado num segundo
plano, dando lugar ao sentimentalismo e a um fenômenalismo
espiritual. Não que as modernas tendências sejam absolutamente
erradas; longe disso, a Igreja realmente precisa acompanhar
os tempos. Mas tomar posição radical e abandonar por completo
os estudos tornou-se hábito constante entre os católicos e
porta aberta para confusão entre nós mesmos. A Igreja é conhecida,
até mesmo pelos não-católicos, como celeiro de grandes pensadores,
vez que possue uma doutrina séria, embasada em vários critérios
científicos e espirituais, sempre ponderados e fundamentados.
Por outro lado, algumas designações cristãs (não todas), apresentam
um Cristianismo sentimental, sem qualquer base doutrinária,
calcado somente em produzir "milagres" e levar as pessoas
ao choro e à comoção. Passado o hipnotismo, tudo se esvaiu.
E eu pergunto: o que sobra disso tudo ? A resposta é fácil:
ou muitas dúvidas não respondidas ou nada. É estranho que,
mesmo com o testemunho de Santo Agostinho nas "Confissões",
relatando o vazio da teoria maniqueísta face à riqueza católica,
alguns católicos tenham relegado claramente a forte formação
doutrinária dada pela Igreja, sob a desculpa de que é preciso
trazer de volta os católicos e que o estudo gera apenas um
intelectualismo na Igreja. Não acho que se trate de intelectualismo,
mas de se conhecer aquilo em que se crê, a fim de não viver
na dúvida, pois a dúvida afasta mais católicos do que o chamado
"intelectualismo". A verdade é que o mundo hoje exige respostas
firmes para dúvidas constantes.
Joahannes Hessen, em seu livro "Teoria do Conhecimento",
nos fala sobre a possibilidade ou não do conhecimento, sobre
a fonte do conhecimento e sobre o que podemos conhecer. Se
creio que não posso conhecer nada, sou cético; se posso conhecer
algo, sou dogmático. Se creio que posso conhecer só pelos
sentidos, sou empirista; se posso conhecer só pela razão,
sou racionalista. Se o que se apresenta para mim é o verdadeiro,
sou realista; se o que penso haver é o verdadeiro, sou idealista.
Nosso problema maior está na segunda classificação. Enquanto
alguns querem adotar uma posição meramente empirista, entendo
que devíamos seguir uma corrente mista: sem esquecer que os
sentidos nos levam a um primeiro contato com o mundo, não
devemos jamais abdicar do uso da razão, pois foi dom nos dado
por Deus e que nos distingüe dos demais seres. Por esta razão,
Santo Tomás de Aquino, Doutor e Teólogo católico, adotou uma
posição intermediária (a que chamou de Intelectualismo, mas
não no sentido antes criticado).
Se tanto criticamos os irmãos evangélicos que
não sabem fundamentar sua fé além da letra da Sagrada Escritura,
deveríamos tomar cuidado para não cair no mesmo erro. A Igreja
é detentora de uma riqueza imensa, à qual São Paulo chamaria
de Depósito da Fé. Por que colocá-la como subsidiária ? Orar
é preciso, mas estudar também é. Como conversar com um Deus,
sem sequer saber o que foi por Ele transmitido. Sem perder
a inocência e autenticidade do diálogo franco da oração, o
católico precisa saber que o estudo nos foi dado por Deus
e não nos tornamos mais frios ou mais distantes dEle somente
porque não estamos chorando ou sentindo arrepios. Se a comunidade
católica não atentar para o fato, que parece até mesmo bobagem,
corremos o risco de, em certo tempo, não haver mais quem possa
explicar os porquês das dúvidas que surgem diante dos questionamentos
que o mundo impõe e, sobretudo, de doutrinas diversas da nossa,
cada vez mais bem defendidas (por meio dos chamados sofismas,
ou seja, falsas afirmações).
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