Título:
A oração a Maria
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Autor(a): Prof. Felipe Aquino |
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Baianismo
e Jansenismo - D. ESTEVÃO BETTENCOURT,OSB
Os Reformadores protestantes lançaram de novo o problema da graça divina e da liberdade do homem, já estudado por S. Agostinho; ver capítulo 13. Apoiando-se na doutrina deste mestre, eram pessimistas em relação a natureza humana e as suas capacidades. Esta temática, complexa como é, continuou a. ser debatida dentro da lgreja Católica após o Concílio de Trento (que apenas falara de cooperação entre graça e liberdade), gerando as controvérsias do Baianismo e do Jansenismo. Baianismo Miguel de Bay ou Baius ( 1589) era professor de Exegese Bíblica na Universidade de Louvain (Bélgica) desde 1552. Desejava reconciliar os reformados com os católicos, valendo-se de escritos de S. Agostinho, que Lutero e os reformadores muito tinham respeitado. Relendo S. Agostinho a seu modo, passou a negar o caráter gratuito e o sobrenatural do estado paradisíaco (a graça, os dons do Espírito Santo e a visão beatífica seriam devidos à natureza humana como tal). Em consequência, afirmava que a natureza humana foi corrompida pelo pecado de Adão, não é mais livre; nem é capaz de realizar o bem, como também não pode resistir é graça de Deus. Juntamente com muitos adeptos, Baio teve numerosos adversários, especialmente entre os franciscanos belgas e os jesuitas; os Padres Lessius S.J. e Hamel S.J. foram por Baio acusados de semipelagianismo, porque pareciam enfatizar demais o ivre arbitrio do homem. Em 1567 o Papa Pio V, sem citar nome algum, condenou 79 proposições de Baio e dos seus seguidores, parte como heréticas, parte como escandalosas ou suspeitas; Paio retrucou ao Papa; por isto Gregório XIII em 1579 voltou a condená-las - o que levou Baio a sujeitar-se em 1580, sem, porém, abraçar as doutrinas de seus adversários franciscanos e jesuítas. O assunto não estava encerrado, como passamos a ver: O Jansenismo (1) Jansen, um professor da Universidade de Louvain, continuou a difundir secretamente as idéias de Baio, querendo combater os jesuitas (especialmente Lessius), que pareciam dar preponderância as forças humanas na conquista da salvação eterna. Jansen encontrou dois discípulos famosos: o holandês Cornélio Jansênão e o francês Duvergier de Hauranne. O primeiro se tornou professor de Teologia na Universidade de Louvain (1617) e morreu como bispo de Ypres (1638). Hauranne foi nomeado abade comendatário de Saint-Cyran e procurava influenciar o público pela direção de consciência e a publicação de escritos anônimos e pseudônimos. Ao morrer, Jansênão deixou seu livro "Augustinus" inédito, que saiu em edição póstuma em 1640, sem a autorização de Roma e à revelia dos jesuitas. Era uma reafirmação dos erros,.de Baius sob o manto de S. Agostinho; o autor lera trinta vezes todos os escritos de Agostinho contra os pelagianos e trabalhara vinte anos na redação respectiva; professava logo no início do livro submissão à Santa Sé e é infalibilidade do Papa. Em 1642 Urbano VIII proibiu a leitura dessa obra. os amigos de Jansênão tomaram isto como um ataque à doutrina de S. Agostinho. Saint-Cyran procurou ganhar para a sua causa os circulos influentes: conseguiu a adesão do famoso teólogo Antónão Arnauld (t 1694) e das monjas cistercienses de Port-Royal (perto de Paris), das quais Saint-Cyran era confessor e cuja abadessa, Angélica, era irmã de Antónão Arnauld. Formou-se aos poucos um partido jansenista, que tinha seus principais adversários entre os jesuitas: estes eram tidos como semipelagianos e laxistas pelos adeptos de Jansênão. Visando a defender sua causa, A. Arnauld publicou em 1643 um livrinho "Sobre a Comunhão Freqüente", em que combatia a recepção amiudada dos sacramentos recomendada pelos jesuitas; estabelecia condições rigorosas para que alguém pudesse receber a Eucaristia ou mesmo a absolvição dos pecados (a comunhão seria prêmio da virtude praticada pelo cristão); o autor julgava estar assim restaurando a disciplina da antiga Igreja. Teve grande sucesso; o Parlamento de Paris colocou-se ao lado dos jansenistas. A situação foi levada ao conhecimento da Santa Sé com o pedido de intervenção. Depois de longas deliberações, o Papa Inocêncio X, na Bula Cum occasione de 31/05/1653, condenava como heréticas as cinco proposições seguintes, tiradas do "Augustinus":
"1 Alguns preceitos de Deus são impraticáveis mesmo para os homens justos e de boa vontade, que tentem cumpri-los segundo suas forças. Falta a esses homens a graça que tome os mandamentos exeqüíveis. 2. Nas condições da natureza decaída, nunca alguém pode resistir a graça Interior. 3. Para merecer e desmerecer no estado da natureza decaida, não é necessária liberdade interior, mas basta a isensão de coação extrínseca. 4. O homem nunca pode resistir a graça de Deus. 5. Cristo não morreu por todos os homens". Esta condenação não pôs termo aos debates. Arnauld e seus amigos reconheceram o caráter herético das sentenças condenadas, mas negaram que elas fossem a doutrina de Jansênão; o Papa as teria entendido em sentido calvinista, que não era o sentido de Jansênão. o Papa, porém, declarou que quisera condenar a doutrina de Jansênão como tal. os jansenistas replicaram, distinguindo "questão de direito" e "questão de fato": a Igreja, diziam, é infalivel ao decidir se uma doutrina em si é herética ou não, mas não é infalível ao julgar um niero fato histórico, isto é, se um teólogo proferiu esta ou aquela doutrina; neste último caso, a Igreja não poderia exigir um assentimento interior ao juizo que ela profere, mas apenas um "silêncio obsequioso" (com discordância interior). Esta distinção deu novo alimento a luta. Depois de discussões acesas, a Sorbona (Universidade de Paris fundada em 1253 por Roberto de Sorbon) expulsou em 1656 Arnauld e sessenta outros mestres. Entrementes entrou em cena o famoso filósofo e matemático Blaise Pascal. lrmão da monja Jacqueline, de Port-Royal, agregou-se em 1654 ao grupo dos Solitários, perto de. Paris: estes eram homens austeros, que, mesmo sem votos religiosos, oravam, trabalhavam e se mortificavam, mantendo o oficio Divino a noite e periodos de silêncio; hospedavam visitantes que com eles quisessem passar alguns dias de retiro o que muito impressionava o público de Paris. Pascal resolveu dedicar sua atenção aos problemas religiosos que fervilhavam no ambiente; assimilou as doutrinas apregoadas por Arnauld e seus adeptos, e colocou sua pena mordaz a serviço dos jansenistas contra os seus adversários, principalmente os jesuitas. Usando o pseudônimo Louis de Montalde, escreveu as suas famosas "Cartas Provinciais" (1656/7), dirigidas contra a imoralidade da sociedade de Paris e a Companhia de Jesus, tida como laxista em Moral. As sátiras de Pascal foram traduzidas para outras linguas e causaram enorme mal é Companhia, que não merecia tal tratamento. A partir de 1660, o rei Luis XIV da França, por motivos politicos, pos-se a combater o jansenismo, o que agravou a situação. Em 1665 apareceu uma Carta Pastoral de quatro bispos franceses, que recomendavam apenas o silêncio obsequioso62... O Papa Alexandre VII condenou os quatro bispos e instituiu uma comissão de nove bispos para julgá-los; os quatro prelados protestaram em nome das "liberdades galicanas", segundo as quais o Papa não tinha o direito de julgar os bispos do reino.63 Assim o jansenismo e o nacionalismo francês (galicanismo) se associaram no combate a Roma. Mas, sob o sucessor de Alexandre VII, inesperadamente os quatro bispos assinaram um formulário de sujeição a Santa Sé; ao mesmo tempo, porém, professaram a sua convicção jansenista num protocolo que devia ficar secreto (1668). O Papa deu-se por satisfeito com o gesto público dos quatro prelados e em 1669 concedeu a reconciliação a todos os jansenistas; era a Paz Clementina, que os rebeldes receberam em atitude de triunfo; o Papa Clemente XI teria anulado os atos de seus predecessores e aprovado o silêncio obsequioso. O jansenismo (2) Nos decênios seguintes, o jansenismo as ocultas continuou a se difundir. Mas no início do século XVIII reabriu-se a luta pública e calorosa. Começou-se a discutir de novo a questão: pode ser absolvido em confissão quem observa apenas um silêncio obsequioso? Quarenta doutores da Sorbona responderam afirmativamente. Diversos bispos e o próprio Papa Clemente XI rejeitaram essa sentença em 1703. Em 1705 o Pontifice publicou a Bula Vineam Domini, em que mais uma vez declarava insuficiente o silêncio obsequioso e exigia a condenação das cinco sentenças do livro "Augustinus" de boca e de coração. A Bula não teve o efeito desejado. O clero francês, impregnado de nacionalismo separatista, na assembléia geral de 1705 declarou que as instruções papais só obrigam os fiéis quando reconhecidas e confirmadas pelos bispos locais. O Papa protestou contra esta atitude, mas com pouco sucesso. Também as monjas de Port-Royal, "puras como os anjos, mas orgulhosas como os demônios", resistiram ao Papa; então o Governo Francês em 1705, com a aprovação do Pontifice, mandou fechar o Mosteiro, destruir o respectivo edificio e a igreja. A esta altura, novo foco se acendeu para alimentar a
discussão jansenista. O Padre oratoriano Pascásio Quesnel
(1719) publicou o livro "Reflexões morais sobre
o Novo Testamento", tendo a aprovação do bispo
Luis Antonio de Noailles. Era obra imbuída de jansenismo, que
encontrou larga aceitação. Os jesuitas conseguiram que
Clemente XI censurasse o livro em 1708 e proibisse, sob pena de excomunhão,
a sua leitura. Diante da resistência a ordem do Papa, Clemente
XI mandou reexaminar o livro e condenou 101 sentenças do mesmo
mediante a Bula Unigenitus de 1713. Recomeçou então
o jogo dialético: já que muitas sentenças extraidas
do seu contexto pareciam ter sentido ortodoxo, o Cardeal de Paris
e sete bispos recusaram-se a aceitar a decisão papal; a corrente
destes contestatórios foi-se avolumando e apelou para um Concílio
Ecumênico. Assim dividiu-se a França em partido dos "Aceitantes"
e partido dos "Apelantes" ou "Anticonstitucionistas";
aqueles usavam faixas de seda castanha e branca, e estes, faixas pretas
e vermelhas. A situação foi se agravando até
o perigo de um cisma. Em 1718 Clemente XI excomungou os Apelantes.
Muitos deles rejeitaram a decisão papal. O acirramento das
posições chamou a atenção do novo rei
Luis XV, pois o fanatismo dos jansenistas constituia uma ameaça
não só a lgreja, mas também a nação.
o poder civil adotou medidas repressivas, que chegaram a reduzir o
Cardeal Noailles, de Paris, à submissão; a maioria dos
outros Apelantes seguiu-lhe o exemplo. Os obstinados apelaram então
para sinais do céu em favor da sua causa: um diácono
jansenista, Francisco de Paris, morreu em 1727 e foi sepultado no
cemitério de S. Medardo; ora os devotos que iam rezar junto
ao túmulo, afirmavam que lá se produziam milagres, visões
e êxtases; as curas eram obtidas por meio de convulsões
em torno do túmulo, enquanto se recitavam imprecações
contra o Papa, a Bula e os Bispos. O apelo a esses critérios
extraordinários não conseguiu deter o desmoronamento
do jansenismo. Em 1732 o rei mandou fechar o cemitério e um
humorista escreveu no portão: "Por ordem do rei, Deus
está proibido de fazer milagres neste lugar". A ação
conjunta do rei e da Igreja conseguiu extinguir aos poucos o jansenismo
na França. A tarefa não foi fácil por causa das
paixões e porque os Parlamentos de Paris e das províncias
se opunham as medidas repressivas do rei; ... opunham-se por causa
do galicanismo (nacionalismo eclesiástico), que o rei Luis
XIV havia fomentado; quando o monarca quis agir com Roma contra o
jansenismo, sentiu a resistência. Todavia, enquanto o jansenismo
propriamente dito desaparecia, ficava na piedade do povo acentuada
tendência rigorista, associada a idéias galicanas, como
se verá em capítulos seguintes. Até S. Pio X
(1903-1914) os fiéis pouco recebiam a Comunhão Eucaristica
por causa do temor incutido pelo Jansenismo. Na Holanda o Jansenismo
conseguiu produzir o cisma ao qual escapou a França de Luis
XIV. Vários jansenistas de renome, entre os quais Quesnel,
para lá se retiraram. Em 1723 quatro sacerdotes jansenistas
de Utrecht lembraram-se de restaurar o arcebispado dessa cidade, que
se convertera ao calvinismo. Um deles, Cornélio Steenhoven,
fora escolhido como titular; encontrou-se quem o ordenasse arcebispo
- o bispo Varlet, das Missões Estrangeiras de Paris, jansenista
suspenso. O terceiro sucessor de Steenhoven ressuscitou os bispados
de Harlem (1742) e Deventer (1758), criando assim a Igreja cismática
de Utrecht, que ainda hoje existe. Os velhos-católicos alemães
(dos quais falará o capítulo 49) entraram em relação
com os jansenistas de Utrecht, formando união com eles em 1889. |