Título:
O Santo Sudário
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Autor(a): Sergio Vitorino Cesari |
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O Sudário é um tecido de linho de 4,36m x 1,10m, irregular na tecedura, semelhante aos de sepulturas antigas. Traz impresso, como num espelho, as figuras dorsal e frontal de um homem torturado. O pano é claro e a figura mal aparece (ver contracapa), por causa do amarelamento superficial dos fios. Não há sinais de vernizes, cores, ou de chamuscamento. São evidentes duas listas escuras, que se alargam em oito manchas simétricas: são as queimaduras produzidas por um incêndio na capela de Chambéry, na noite de 3 de dezembro de 1532. Os oito pares de pequenos triangulos claros são pedaços de pano costurados como remendos. O Sudário era conservado num cofre revestido de prata; foi salvo do fogo quando o metal começava a fundir-se, ficando seriamente danificado ao longo das dobras, agora irremediavelmente carbonizadas. A água usada para apagar o incêndio ensopou o lençol, formando halos romboidais, visíveis ao longo das bordas, acima da cabeça, na altura do tórax, dos ombros e dos joelhos da figura do Homem. História do Sudário O evangelista João conta que Nicodemos e José de Arimatéia pegaram o corpo de Jesus e o envolveram, com perfumes, em faixas de linho, do modo como os judeus costumavam sepultar (Jo 19, 38-40). Mateus diz que José de Arimatéia tomou o corpo de Jesus e o envolveu num lençol limpo, colocando-o num túmulo novo (Mt 27,29-60). Marcos e Lucas referem-se ao fato, usando a expressão "envolveu-o no lençol" (Mc 15,46; Lc 23,53). O Santo Sudário, ao longo de quase dois mil anos, passando por vicissitudes, percorreu extenso caminho. De Jerusalém, fugindo da perseguição, os primeiros cristãos o levaram para a cidade de Edessa, hoje sul da Turquia. Depois de vários séculos passou para Constantinopla atravessando o interior da Turquia, onde ficou até 1204, sendo então levado pelos Cruzados até Paris. Em 1453 chega à Chambéry, sul da França, como legado dos Duques de Savóia, de cuja casa saíram os reis da Itália. Em 1532, ocorre um incêndio na Capela do Castelo de Chambéry, onde o Sudário estava encerrado numa caixa de prata, sofrendo várias danificações que são as manchas brancas verticais que se percebe ao longo do corpo. As partes queimadas foram corrigidas por remendos feitos pelas Irmãs Clarissas, em forma de triângulos imperfeitos ou de U maiúsculo. Observam-se também as manchas de água ao se apagar o incêndio. Em 1578 uma peste assola a Europa. O arcebispo de Milão, Carlos Borromeu, faz a promessa de ir a pé até Chambéry em sinal de penitência e suplicando pelo término da peste. Para facilitar ao arcebispo o cumprimento do voto, o Duque Emanuel Phillibert, da família Savóia, leva o Sudário à Turim, onde se encontra até hoje, guardado em caixa forte com alarmes eletrônicos. Em 1983, o ex-rei Humberto da Itália transferiu os seus direitos sobre o Sudário ao Vaticano. Mistério Durante exposição, em 1898, o fotógrafo amador e advogado Secondo Pia fotografou pela primeira vez o Sudário. Ao revelar o filme, percebeu que as impressões do corpo começaram a assumir nitidez e profundidade inesperadas. A imagem foi impressa, inexplicavelmente, em negativo, ou seja, as partes sombrias tornaram-se claras e as luminosas, escuras. Nenhum artista poderia tê-la pintado assim. A partir daquela descoberta casual seguiram-se muitos estudos e exames fotográficos, fotométricos, radiológicos, químicos e médico-legais. A ciência apurou que não se trata de uma pintura, que as manchas de sangue contêm verdadeiro sangue humano, e que as feridas do corpo martirizado atestam uma crucificação romana. Para os cientistas, o Sudário é um mistério, pois as impressões daquele Homem estão gravadas em negativo com efeito tridimensional, enquanto as manchas de sangue são gravadas em positivo. Seguramente o lençol envolveu o cadáver de um homem martirizado, flagelado, coroado de espinhos, crucificado com cravos, com o lado traspassado, apresentando escoriações no joelho esquerdo, causado por queda, feridas, inchaços, sangue coagulado no rosto, septo nasal quebrado... Existem muitas coincidências entre as narrações dos Evangelhos e a imagem do Sudário, razão pela qual a piedade cristã viu nele um testemunho da paixão e morte de Jesus. O pesquisador Luigi Gonella, consultor científico do Cardeal Anastácio Ballestrero, ex-arcebispo de Turim, afirma: "A ciência jamais poderá demonstrar que o homem do Sudário seja Jesus Cristo, uma vez que não existe um registro em arquivo algum que possa confirmar tal identidade. A ciência diz apenas que é extremamente provável que se trate de Jesus, dado o número impressionante de coincidências com os relatos de sua paixão no Novo Testamento." Pesquisas Em 1988 foi retirado um pedaço do Sudário como amostra para ser submetido à datação pelo método do Carbono 14 (C-14). Pelos resultados do teste do Carbono 14, parecia estar confirmada a hipótese de que o Sudário dataria do período de 1260-1390 e que teria sido obra de pintor medieval. Muitos cientistas, no entanto, não consideram fidedigno o processo utilizado no teste, por não levar em consideração fatos traumáticos que envolveram o tecido ao longo dos séculos, como incêndios, imersões na água, exposição à fumaça, etc. No primeiro semestre de 1996, dois cientistas italianos, da Universidade de Turim, o médico Luigi Baima Bollome e o perito em investigações computadorizadas, Nello Balossino, descobriram vestígios de uma moeda colocada sobre o olho esquerdo do Homem que estava envolvido no Sudário. A moeda (lepton) foi reconhecida como datada dos anos 29/30 depois de Cristo. Os vestígios de outra moeda, colocada no olho direito do cadáver, conforme os costumes de sepultamento dos antigos, já foram encontrados em 1979. Síntese A autora da obra La Sindone, un'immagine "impossíbile", Emanuela Marinelli, do Centro Romano de Sindonologia, traduzida para o português com o título O Sudário - Uma imagem "impossível" elenca as seguintes conclusões em seu estudo sobre as pesquisas feitas sobre o Sudário:
O resultado anômalo do exame com C-14, os limites desse método para um objeto que passou por tantas vicitudes e a grande quantidades de dados adquiridos, graças a todas as outras pesquisas científicas multidisciplinares, tornam razoável não excluir a autenticidade do Sudário, diz a autora. Opiniões O Pe. Giuseppe Ghiberti, teólogo de Turim, assim se manifestou sobre as pesquisas de 1966: "Creio que, antes de mais nada, toca à ciência avaliar esta última descoberta. Se fôr tida como genuína, as conseqüências da mesma não serão desprezíveis. Ter-se-á uma nova modalidade de evidência histórica que até hoje nenhum documento escrito e nenhuma peça arqueológica nos proporcionaram". O Cardeal de Turim e Guardião do Santo Sudário, Giovanne Saldarini, após as pesquisas, declarou: "Ninguém jamais tentou servir-se do Sudário de Turim para provar a fé cristã. A fé não se funda sobre imagens, nem sobre relíquias, nem sobre descobertas científicas. Doutro lado, se se pode demonstrar que o Sudário reproduz realmente a imagem de Jesus Cristo, os não crentes terão mais dificuldade para sustentar a incredulidade". "A imagem, acentua o Cardeal, nos apresenta o seguinte problema: estamos nós contemplando mera criação artística, ou, ao contrário, a verdadeira figura de Jesus como era após a sua Paixão e Morte? Esta não é uma questão de fé. Os fiéis gozam de absoluta liberdade para crer ou não crer nos dados fornecidos." Ítalo A. Chiusano - escritor "Para mim, depois da publicação do resultado do negativo do exame com o C-14, a questão do Sudário se torna uma questão aberta. Agora o ônus da prova compete aos cientistas. Tocará a eles explicar-nos todas as questões: dos pólens, da tridimensionalidade, do negativo, das coincidências históricas e arqueológicas, das moedas de Pôncio Pilatos sobre os olhos do cadáver, da ausência de decomposição, da impossibilidade de que ele tenha sido pintado etc. Os cientistas terão, portanto, muito trabalho. Trabalho tão longo que, antes que termine, talvez apareça uma prova de que esse lençol é do tempo de Cristo. E então não comemoraremos vitória como fizeram os 'carbonistas' (do carbono-14), mas agradeceremos humildemente ao Senhor e saberemos que essa é, em todo caso, só uma imagem do Filho de Deus, que não tem necessidade de imagem porque seu Sudário está dentro da alma de cada um de nós." Lamberto Schiatti - Jornalista e Sacerdote "Resta a pergunta: 'E vós, quem dizeis que eu sou?' Por isso, o Sudário continua a apaixonar a opinião pública, desafiando a ciência e provocando crentes e não-crentes com o fascínio de um mistério que cada um queria ver definitivamente descoberto. No silêncio da morte, o Homem do Sudário interpela a humanidade como Cristo, há dois mil anos: 'E vós, quem dizeis que eu sou?' A resposta não é fácil, porque reconhecer Cristo morto e ressuscitado significaria abalar a existência. O Sudário, como Cristo, não tem pressa. Parece não temer o tempo. O 'sinal de Jonas' não se impõe. Tem paciência e espera. Não pode ser cancelado. É mudo, mas interroga-nos com seu silêncio. O Sudário se cala, mas faz a ciência falar." Ignazio Del Vecchio - padre passionista "Podemos também acrescentar que, para os tempos modernos, o Sudário é o que foram a estupendas catedrais e maravilhosas esculturas e pinturas para os tempos passados: um grande 'livro', mediante o qual todos, indistintamente, são introduzidos e levados à compreensão do maior mistério da humanidade, o do amor e do sofrimento de Deus". "Parece, - continua o padre passionista, - que Jesus repete aos estudiosos atônitos as palavras que dirigiu ao incrédulo Tomé, na noite da oitava de Páscoa: 'Põe teu dedo aqui e vê minhas mãos; estende tua mão e põe-na no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê' (Jo 20,27). Nessa altura, é necessário que o espanto da ciência dê lugar às 'maravilhas' da fé. Não basta preparar a lista dos sinais dos sofrimentos presentes no Homem do Sudário. Não basta a veracidade das marcas, e não é suficiente afirmar que a figura impressa nesse lençol é a do Jesus histórico. É necessário acrescentar, por exigência de honestidade, que se trata do Cristo da fé, daquele que venceu a morte e ressuscitou. É certo que o Sudário nunca pretendeu provar a ressurreição de Cristo. Sabemos que a prova decisiva da ressurreição nos vem exclusivamente da Sagrada Escritura, da tradição apostólica e da Igreja, à qual damos nossa adesão de fé. Mas, desde que o Sudário se apresenta corno o pano autêntico que envolveu o corpo de Cristo descido da cruz, já não podemos tirar-lhe um título, ao qual ele tem direito: se ele 'conheceu' Cristo morto, 'conheceu' também Cristo ressuscitado. Seu papel pode, pois, ser chamado de testemunhal. Será talvez por isso que o mistério da ressurreição, acolhido por um ato de fé, atinge-nos com vibrações novas e com intensidade ampliada. Deve-se, por isso, admitir que é necessário estabelecer com o Sudário um diálogo assíduo, sincero e livre de qualquer recusa preconceituosa. Um verdadeiro diálogo de fé. É necessário ouvir o convite de Jesus aos seus contemporâneos incrédulos: 'Crede, ao menos, por causa dessas obras' (Jo 14,11). E as maravilhosas obras de Deus não são nem poucas, nem pequenas. O Sudário oferece uma resposta documentada e providencial à profunda necessidade de devoção cristológica 'moderna'. A nós, cristãos, cabe o dever de acolher, preservar e difundir esse testemunho." Papa Paulo VI "Olho esse rosto e todas as vezes que o olho, o coração me diz: é Ele. É o Senhor." Dizia ainda: "Grande sorte, portanto, a nossa, uma vez que essa figura do santo Sudário nos permite contemplar alguns traços autênticos da adorável figura física de nosso Senhor Jesus Cristo e socorre o nosso desejo, hoje tão ardente, de poder conhecê-lo também visivelmente! Recolhidos diante de tão preciosa relíquia, crescerá em nós, crentes ou profanos, o fascínio misterioso dele, e ressoará em nossos corações a admoestação evangélica de sua voz, convidando-nos a procurá-lo onde ele ainda se esconde e se deixa descobrir, amar e servir em figura humana: 'Cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes' (Mt 25,40)". Cardeal Anastásio Ballestrero "Sabemos que, no Sudário, a imagem misteriosa do homem crucificado impressiona. É um sinal ao qual podemos nos referir para tomarmos mais viva nossa meditação sobre a paixão e a morte do Senhor. Um sinal no qual podemos inspirar-nos para vermos nesse homem crucificado não só o Senhor Jesus, no qual cremos e que amamos e adoramos, mas também todos os irmãos crucificados, aos quais estamos ligados pela caridade do Evangelho e nos quais podemos e devemos amar o Salvador." ... "A torturada imagem do Sudário pode tomar-se o retrato de cada pessoa que vive na fé sua paixão pessoal, aceitando sua dor, e compreendendo o fermento de esperança e o poder de transfiguração que a Cruz oferece à vida. O Homem do Sudário, nu, sem nenhuma soberba, sem nenhuma arrogância, sem nenhuma violência, interpela-nos com a sacralidade da dor e com a majestade da paz, e, por assim dizer, constrange-nos a sermos melhores. Esse rosto nos traspassa e nos seduz!" Papa João Paulo II "Uma relíquia extraordinária e misteriosa, e, - se aceitarmos os argumentos de muitos cientistas, - uma testemunha singularíssima da páscoa, da paixão, da morte e da ressurreição. Testemunha muda e, ao mesmo tempo, surpreendentemente eloqüente!". Escritor Françóis Mauriac "Naquela mísera carne, saída de um abismo de humilhações e de torturas, Deus resplandece com uma grandeza suave e terrível, e aquele rosto venerável pede talvez mais adoração do que amor." PRINCIPAIS DATAS DA HISTÓRIA DO SUDÁRIO 30 d.C. - O
corpo de Jesus é depositado no sepulcro e envolto "num pano de linho
branco". Na manhã de Páscoa, o lençol é encontrado vazio (Jo 20,5-6). |