Incorrupção
No livro do Eclesiastes, se
lê esta frase: "Lembra-te que és pó. E ao pó retornarás".
Além de lembrar ao homem sua condição perecível e transitória,
esta sentença recorda a aniquilação física, a decomposição
do organismo, após a morte. A realidade é constatada quase
universalmente. Digo quase universalmente, por se darem exceções,
embora raríssimas, de não decomposição física. Exceção esta
conhecida pelo nome de Incorrupção.
A Incorrupção é a preservação do
corpo humano da deteriorização que comumente afeta todo organismo
poucos dias após a morte. É evidente que são excluídas as
mumificações, as saponificações e outros processos químicos
de preservação dos corpos dos mortos; pois seriam incorrupções
artificiais.
O primeiro
documento de autenticidade indiscutível que relata uma Incorrupção,
data do século IV e é redigido por Paulino, secretário de
Santo Ambrósio, Bispo de Milão: este documento é redigido
em forma de carta dirigida ao Bispo de Hipona, Santo Agostinho.
Paulino descreve o descobrimento feito por Ambrósio: "Por
este tempo, ele (Ambrósio) encontrou o corpo do mártir Nazário
que se encontrava enterrado num jardim fora da cidade de Milão;
recolheu o corpo e o transladou para a Basílica dos Apóstolos.
No túmulo foi encontrada a cabeça que fora decepada pelos
inimigos, em perfeito estado, como se tivesse apenas sido
colocada junto ao corpo, do qual emanava sangue vivo e uma
fragrância que superava todos os perfumes.
Tinham transcorrido 200 anos do martírio.
Mais preciso e mais digno de
crédito é o relato de Eugippius acerca do corpo de São Severino,
bispo de Noricum, morto em 482. Seis anos após sua morte,
o corpo foi encontrado incorrupto. Embora existam muitos outros
casos a partir do século IV até o século XVI, interessam-nos
mais as preservações a partir do século XVI, por possuirmos
fontes históricas mais comprovadas e mais fidedignas.
Em 19 de outubro de 1634, falecia
a Madre Inês de Jesus, priora de Langeac. Seu corpo, sem sofrer
qualquer processo de extração de entranhas ou de embalsamento,
foi sepultado na sala capitular, ao lado de outros membros
da comunidade. Passados alguns anos, o Sr. Bispo, em vista
do processo de Beatificação, ordenou que seus restos fossem
exumados. O corpo foi encontrado sem sinal de decomposição.
Transladações e verificações foram realizadas até o ano de
1770. Em 1698 e 1770, cientistas, cirurgiões e médicos declararam
que humanamente, a preservação do corpo era inexplicável.
São Vicente de Paula faleceu
em 1660, para atender aos pedidos de canonização a exumação
do corpo foi feita em 1712, depois de mais de 50 anos de sua
morte. Aberto o túmulo, na expressão de uma testemunha ocular
"tudo estava como quando foi enterrado". Quantos puderam vê-lo,
observaram que seu corpo estava em perfeitas condições e os
médicos atestaram que o corpo não podia ter sido preservado
por meio natural algum, durante tanto tempo.
A beata Maria Ana de Jesus,
terciária da ordem de Nossa Senhora da Redenção, nascida em
Madrid e falecida na mesma cidade em 1642; teve o corpo preservado
da decomposição. Pouco depois de sua morte, o Cardeal Treso,
Bispo de Málaga e presidente da Castela; que a conhecera pessoalmente
em vida, no processo de beatificação, declara Ter estado presente
na primeira exumação e afirma: "Eu ví e me assombrei ao presenciar
que o corpo morto há anos, sem que tivessem sido retiradas
as vísceras ou embalsamado, pudesse estar tão perfeitamente
conservado que nem sequer o abdômen e nem as faces oferecessem
sinal de deteriorização, com exceção de uma mancha nos lábios,
embora esta já a tivesse em vida".
Em 1731, tendo já transcorridos
107 anos da morte da Serva de Deus, teve lugar uma inspeção
oficial e mais completa, por ordem das autoridades eclesiasticas
interessadas na causa da Beatificação. Os restos mortais se
apresentavam suaves, flexíveis e elásticos ao tacto. Esta
investigação teve lugar em Madrid, tendo sido fácil reunir
médicos e peritos. Nove professores de medicina e cirurgia
tomaram parte nas investigações e depuseram como testemunhas.
Foram feitas incisões na parte carnosa e no peito; foram estudados
os orifícios naturais por onde poderiam Ter sido introduzidos
preservativos contra a putrefação. Foi uma verdadeira dissecação.
Após completar as investigações,
os médicos declararam: " Os órgãos internos, as vísceras e
os tecidos carnosos, estavam todos eles intactos, sãos, úmidos
e elásticos".
Baseada nesse testemunho, a
Congregação dos Ritos aceitou a preservação como fato milagroso,
apesar de 35 anos mais tarde, antes que fosse publicado o
decreto de beatificação, uma terceira inspeção revelasse que
na oportunidade, o corpo já não era mais flexível e brando.
Os tecidos tinham endurecido, mas não estavam decompostos.
Do relato aparece claramente
que o corpo da Beata fora preservado da corrupção, não devido
a um processo de saponificação ou de mumificação. Seria incrível
que competentes cirurgiões, após as incisões e os exames das
vísceras, descrevessem os tecidos como sãos e intactos se
os mesmos se tivessem se convertido numa massa adipoeira.
Além do mais, eles insistem que o corpo, cem anos depois da
morte, estava elástico e perfeitamente flexível, enquanto
que outros corpos enterrados na mesma cripta, tinham seguido
a lei natural da decomposição.
Uma outra narração nos chama
a atenção; é a do mártir jesuíta André Bobola, que tendo combatido
com sua palavra, os cismáticos russos, tornando-se conhecido
como o "apóstolo de Pinsk", atraiu o ódio de seus adversários,
os cossacos; e foi submetido a um cruel martírio. Em mãos
dos cossacos, e recusando-se a aceitar o cisma russo, foi
açoitado , ultrajado de uma maneira incrível. Foi praticamnte
esfolado vivo, cortada uma mão, enfiados estiletes de madeira
por debaixo das unhas, arrancada sua língua, e sua fisionomia
tão deformada que mal parecia homem. "Sangrava, afirmava uma
testemunha, como um boi no matadouro". Após horas de tormento,
saciados já os sanguinários e dando apenas sinais de vida,
desferiram-lhe um golpe de espada na garganta. Após jogar
o deformado cadáver numa esterqueira, retiraram-se os cossacos
e os católicos recolheram os restos mutilados e os enterraram
às pressas na cripta da Igreja dos Jesuítas, em Pinsk.
Quarenta e quatro anos mais
tarde, o reitor do colégio dos jesuítas de Pinsk, por uma
visão ou sonho que acreditou ser sobrenatural, fez uma investigação
para encontrar o corpo do mártir. Foi encontrado, segundo
todas as aparências, exatamente no mesmo estado em que fora
depositado: com as mutilações, continuava integro e incorrupto;
as articulações continuavam flexíveis; a carne, nas partes
menos afetadas pelas mutilações era elástica e o sangue que
cobria o cadáver parecia recém-coagulado. O último exame ordenado
pela Santa Sé, teve lugar e 1730- setenta anos depois da morte.
Seis eclesiásticos e cinco médicos mantiveram as declaraçoes
anteriores. Também eles declararam que o corpo, exceto as
feridas causadas pelos assassinos, estava intacto; a carne
conservava-se flexível e que sua preservação não poderia ser
atribuída a uma causa natural. Em 1835, a preservação do corpo
foi aceita pela Congregação dos Ritos, como um dos milagres
exigidos para a beatificação. Segundo testemunhas, nenhum
corpo dos depositados na cripta onde se encontrava o corpo
de André Bobola foi preservado.
Não se pode afirmar que tal
fato pertença somente aos séculos passados; Santa Madalena
Sogia Barat, fundadora da sociedade do Sagrado Coração, faleceu
em 1865; vinte e oito anos mais terde, seu corpo foi encontrado
quase pefeitamente inteiro, embora o ataúde estivesse parcialmente
podre e recoberto de mofo. Imunidade idêntica foi outorgada
a Joào batista Vianney, o célebre Cura De Ars que morreu em
1859 e foi beatificado em 1905. Identico privilégio coube
à vidente de Lourdes, Bernardete Soubirous; faleceu em 1879
com a idade de 34 anos. Em 1909, passados 30 anos, o corpo
foi exumado e uma testemunha afirma:"Nào havia o menor indício
de corrupção. Seu rosto aparecia levemente escurecido e os
olhos um tanto afundados, parecendo estar dormindo. O corpo
foi novamente encerrado num ataúde juntamente com um informe
do estado em que foi enontrado.
Poderíamos continuar a enumerar
fatos, mas os já citados são suficiente para dar um idéia
do fenômeno da Incorrupção e sua inexplicabilidade. Digo inexplicabilidade,
porque, apesar de existirem outros tipos de incorupção, não
coincidem com a exposta.
Corrupção total do corpo e preservação integral de certos
órgãos- Se a preservação total ou parcial da corrupção de
alguns corpos é um assunto intrigante para a ciência e enigmático
também para a Igreja, para a qual a simples constatação da
incorrupção não é critério de santidade, e portanto, milagre
evidente, muito mais intrigante e enigmática é a preservação
de um determinado membro de um corpo que foi reduzido a pó.
Será, logicamente, muito mais difícil para a ciência
encontrar uma explicação para tal preservação e um caminho
muito mais aberto e claro para a Igreja afirmar o fato como
miraculoso.
Nenhum exemplo poderia
ser mais sugestivo para discernir a Providência Divina do
que a preservação parcial do coração de santa Brígida, da
língua de Santo Antonio, de São João Nepomuceno e da beata
Batista Varani.
Santa Brígida, da Suécia faleceu
em 23 de julho de 1373. Seus restos mortais foram exumados;
tudo estava reduzido a pó encontrando-se o coração incorrupto.
A atitude da Igreja Católica
mostrou-se sempre muito cautelosa perante fatos inusitados,
inclusive perante a incorrupção dos corpos de pessoas santas.
Num levantamento feito pelo competente e autorizado studioso
de Parapsicologia, Pe. Herbert Thurston . S.J, com 42 santos
célebres por sua vida, obra e santidade, entre os quais muitos
foram encontrados incorruptos depois de anos, assevera o mesmo
autor que nenhum deles foi canonizado por ter sido preservado
da corrupção.
Há aqueles que afirmam que
a sobriedade na comida e na bebida, característica de todos
os ascetas, podem modificar completamente as condições do
metabolismo normal e tende a aliminar certa classe de micróbios
que são mais ativos no processo de putrefação; poderíamos
replicar que existem muitas pessoas pobres ou doentes ou por
opção que são abstêmias, e uma vez mortas, a lei da decomposição
as acompanha normalmente.
A experiência comum mostra
que não concorrendo condições extremas excepcionais, por exemplo,
um frio intenso, a decomposição chega, mais cedo ou mais tarde
e que antes de passados 15 dias da morte, são visíveis os
primeiros sinais.
E
o problema tornar-se-á ainda mais insolúvel para o cientista
ao constatar que as incorrupções são verificadas em místicos
e santos. ( em ambiente religioso.).
Muitos segredos da natureza
já foram desvendados, dado o contínuo progresso das diversas
ciências. Há outros, entretanto, que são indescifráveis porque
não só superam as forças e leis da natureza, como também,
e isto é significativo, são característicos do catolicismo,
e só dele.
Não
consta historicamente, apesar de aprofundadas pesquisas na
procura, que pessoas de outros credos e em qualquer outro
tempo, tenham manifestado ausência de rigidez cadavérica.
No catolicismo, ela é exclusiva de pessoas
que em vida, manifestaram uma santidade excepcional, mas não
de todos os grandes santos, pois nenhum milagre tem regras
fixas.
O primeiro caso de que
temos notícias data de 1160 e a primeira pessoa em que foi
verificado foi Rainerio de Pisa. Quem relata o fato é um contemporâneo
e,ao que tudo indica, digno de crédito. "Seus menbros não
demonstravam depois da morte, nenhum sinal de rigidez. Pelo
contrário, conservavam-se úmidos e molhados de suor e eram
tão flexíveis como os de um homem vivo".
Pouco mais de meio século depois
(1226), ocorreu a morte de São Francisco e Assis. O novo superior
da Ordem, o irmão Elias, num comunicado aos demais confrades,
descreveu minuciosamanete como durante os últimos dias, Francisco
era incapaz de levantar a cabeça. Seus membros "estavam rígidos
como os de um morto". Mas depois de sua morte... os membros
antes rígidos se tornaram flexíveis.
Pelo menos 50 casos bem estudados
de ausência de rigidez cadavérica existem entre santos da
Igreja católica, desde o século 12 até nossos dias.
EXEMPLOS...
Parece oportuno agpra falar
um pouco sobre o aspecto fisiológico da questão do "Rigor
mortis".
Thurston revisou os manuais
clásicos ingleses, franceses, alemães, espanhóis e italianos
sobre jurisprudência médica: "Não descobri nenhum que reconhecesse
a possibilidade de alguém estar isento da rigidez cadavérica".
Há alguma variação com respeito
a hora do aparecimento e término da rigidez: pode variar algumas
horas dependendo do clima e do continente. Para a Inglaterra,
por exemplo, o Prof. Glaister declara: "Ordinariamente a rigidez
começa no pescoço, mandíbula e no rosto, cinco ou seis horas
após a morte. Após dez horas, abrange toda a parte superior
do corpo, e doze a dezoito hras após a morte, afetará todo
o corpo". Segundo E. Harnack, médico alemão, na maioria dos
casos, a rigidez chega a ser completa no prazo de 5 a 6 horas
após a morte.
"Com toda a probabilidade,
a rigidez terminará na maioria dos casos, transcorridas 36
horas", dando origem à corrupção. Segundo os clássicos alemães,
porém, a rigidez cadavérica dura habitualmente 72 horas.
O "rigor mortis" pode demorar
em aparecer até 16 horas após a morte e permanecer até 21
dias, mas ambos são casos e circunstâncias raríssimas, como
determinadas substâncias usadas na medicação. Nas doenças
de consumpção, de curta ou prolongada duração, a rigidez pode
começar imediatamente após a morte e desaparecer logo, iniciando-se
imediatamente a putrefação.
O número de casos em que não
se verificaram traços de rigidez cadavérica é grande para
enumerar e discutir um por um.
Cadáveres que destilam
óleo-
Surpreendente constatação: Certos
cadáveres, anos após a sepultura e até séculos depois, destilam
um líquido semelhante ao óleo vegetal. Outros, em idênticas
condições, sem causa que o justifique, emitem água.
É relativamente comum que este
líquido brote de qualquer incisão feita nos corpos preservados
da corrupção.
Os católicos gregos, antes
do cisma da Igreja oriental, tinham um nome especial para
determinados e numerosos casos de cadáveres de santos: "movoblútai",
isto é, "destiladores de óleo".
O Papa Bento XIV exige (e garante
nestes casos) para afirmar a realidade do prodígio da água
e do óleo, que tenham sido removidas todas as causas naturais,
como a infiltração da água ou a possibilidade de Ter sido
colocado algum líquido. Os restos mortais devem ficar em lugar
apropriado e completamente seco, excluindo-se qualquer possibilidade
de intervenção humana.
Aqui nos defrontamos com um fenômeno
de todo inusitado e inexplicável para o qual a ciência não
pode encontrar nenhuma explicação razoável e satisfatória,
apesar de tratar-se de casos fáceis de examinar e constatar
qualquer vestígio de explicação, caso esta fosse possível.
A evidência do fato é indiscutível.
A Parapsicologia não encontra
sequer uma hipótese que possa dar uma pista ou tênue esperança
de solução. A Parapsicologia no seu caminhar no estudo do
maravilhoso, se defronta, uma vez mais, com o absoluto Senhor
da Vida, que pode manifestar-se igualmente na morte, para
testemunhar a Doutrina e santidade de seus santos.
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