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1. "Quando ia celebrar com seus discípulos
a Ceia Pascal, onde instituiu o Sacrifício do seu Corpo e Sangue,
o Cristo Senhor mandou preparar uma sala ampla e mobiliada" (IGMR
Proêmio,1).
"A Igreja sempre assumiu como ordem a si dirigida a obrigação de
preparar as pessoas, os lugares, os ritos e os textos para a celebração
da Santa Missa" (idem).
Há normas para tudo. Norma não significa fôrma. Significa
disciplina e ordenamento. Significa que a liturgia não pode ficar
à mercê de gostos pessoais, de modismos, de inovações de gosto duvidoso,
de acréscimos supérfluos ou de supressões por comodismo. Lembremos,
a propósito, um ponto importante: a Igreja admite a possibilidade
de se fazerem adaptações na Liturgia. Adaptação pode significar: amoldar
a liturgia a determinada cultura, substituir palavras ou ritos inexpressivos
em tal cultura ou extrato social. Deve-se, todavia, levar em conta
que qualquer adaptação deverá sempre concorrer para uma melhor compreensão,
um enriquecimento, ou para eliminar conflitos com certo costume ou
cultura. Conclusão prática: nem acréscimos supérfluos, nem
supressões por comodismo.
2. "A celebração da Missa, como ação
de Cristo e do Povo de Deus hierarquicamente ordenado, é o centro
de toda a vida cristã, tanto para a Igreja Universal como local...
As demais ações sagradas e todas as atividades da vida cristã a ela
estão ligadas, dela decorrendo ou a ela sendo ordenadas" (IGMR
1).
Não se confunda Liturgia com ritos. Os ritos (gestos, movimentos,
ações, sinais externos) são necessários porque não se faz Liturgia
só com palavras e idéias1. Não obstante, são complementares,
como também o são os cânticos, as cores litúrgicas, os objetos, as
vestes.
3. "A Liturgia deve ser de tal modo
disposta que leve todos os fiéis à participação consciente, ativa
e plena de corpo e espírito, animada pelo fervor da fé, da esperança
e da caridade" (IGMR 3).
Como se vê, a Liturgia começa "em todas as atividades da vida cristã"
e a conduz à santidade. Não será apenas com ritos, gestos ou cânticos
que se vai conseguir essa participação ativa e frutuosa da Missa.
Celebração, comunhão, participação supõem disposição interior. Não
bastam gestos externos. Estes apenas servem para conduzir o corpo
e condicionar a mente.
4. "Na Missa, a Ceia do Senhor, o povo
de Deus é convocado e reunido sob a presidência do Sacerdote que representa
a pessoa de Cristo" (IGMR 7).
Este texto acena para o preceito dominical que é da Igreja. Acrescente-se
que Jesus ensinou: Pai Nosso, ...venha a nós, ...perdoai-nos, ...não
nos deixeis, etc... Ele nos quer reunidos, usou expressões no
plural para significar que a melhor maneira de orar é em comunidade,
em família. Igreja é grupo. É bom orar sozinho, mas em grupo é melhor.
Ninguém faz liturgia sozinho. Desse texto também se deduz: se o povo
é convocado pela Palavra de Deus, cujo portador é o pároco, este é
que deveria acolher o povo convocado. Neste caso, não faz sentido
dizer, como dizem alguns: "Vamos ficar de pé para acolher nosso
celebrante com o canto de entrada". Primeiramente, não é correto
dizer "o celebrante", como se os outros participantes não o fossem;
além disso, o canto de entrada, que hoje se diz de abertura,
não é para acolher ninguém, mas para proclamar o mistério que se celebra,
para despertar e sensibilizar a comunidade e, consequentemente, uní-la
em torno do mistério. Serve, portanto, para iniciar a comunhão.
Conclusões Práticas:
a. Sem presidência não se faz Liturgia, já que os ritos devem ser
ordenados.
b. Liturgia é comunhão dos irmãos com Jesus Cristo em busca do Pai.
c. Pelo Batismo, todo cristão participa do sacerdócio de Jesus; por
isso, todo cristão é celebrante a seu modo (a modo de participante
do sacerdócio de Jesus).
d. Além do Batismo, o sacerdote tem o Sacramento da Ordem pelo qual
ele é constituído "celebrante principal" ou "celebrante nato" da assembléia
dos cristãos que celebram.
e. A Santa Missa é toda, inteira, uma "ação consacratória"; o canto
de abertura inicia a celebração.
5. "A Missa consta, por assim dizer,
de duas parte, a saber: a Liturgia da Palavra e a Liturgia
Eucarística, tão intimamente unidas que constituem um só ato de
culto" (IGMR 8).
A Missa propõe, portanto, a Mesa da Palavra e a Mesa do
Corpo de Cristo. Os ritos de abertura e os de encerramento são
complementares. Muito acertadamente, dizemos que a eucaristia é alimento
e é remédio. Não esqueçamos: Jesus é o Libertador. Ele tomou,
como ponto central, para o exercício de sua missão, o socorro às nossas
fraquezas e deficiências. Inúmeras vezes em sua pregação Ele fez alusão
a isso: "Não são os sadios que precisam de remédio, mas os enfêrmos...
Eu não vim para curar os justos, mas os pecadores". E quantas
vezes Ele multiplicou os alimentos e quantas outras se manifestou
numa refeição? Com os apóstolos, após sua ressurreição; com os discípulos,
a caminho de Emaús; na casa de Zaqueu; nas caminhadas, quando seus
companheiros colhiam trigo; e nas parábolas: fermento na massa, o
semeador... Quanto ao perdão e a misericórdia: a vocação de Mateus,
Zaqueu, a mulher adúltera, a samaritana, o bom samaritano, o paralítico,
a pecadora... Todos os seus milagres foram feitos para libertar alguém.
A Eucaristia também! Além da fé, a correta recepção da Eucaristia
depende também de bom senso. Longe de nós escrúpulos ou rigorismos,
achando que somente aqueles que não têm pecado podem receber a Eucaristia.
Ela é alimento e é remédio. De outro lado, devemos considerar também
que ninguém recebe a Eucaristia por ser pecador, no sentido
de que é necessário que se tenha pecados para poder recebê-la. Vejamos,
então:
1. O ser pecador é uma condição humana e não uma exigência.
2. O ter pecados exige algum reparo: que pecados? Com que frequência?
3. A grande solução é querer não ter pecados, é buscar a conversão,
a mudança de vida.
O mais correto, pois, é dizermos que recebemos a Eucaristia apesar
de pecadores e não por sermos pecadores. É bom notar que esses
três pontos formam um critério pastoral para a distribuição e recepção
de todos os Sacramentos. Lembremos aqui um ponto importantíssimo:
o sacerdote é distribuidor e guardião dos Sacramentos. Distribui aos
que merecem e defende dos que abusam.
1Liturgia é ação!
Fontes de Informação 1. "Instrução Geral
sobre o Missal Romano" (IGMR).
2. "Anotações Gerais do Diretório Litúrgico" (DL).
3. "Inaestimábile Donum" (ID), instrução do papa João Paulo II sobre
o culto da Eucaristia (abr./1980).
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