Santos
de calça jeans
Ainda hoje se encontram
jovens que acreditam ser impossível unir juventude e santidade,
achando que são dois pontos divergentes. Alguns chegam
até ao absurdo de confundir santidade com "anormalidade"
e pensam que para ser santo devem ser esquisitos. Trata-se
de um grande equívoco que deve ser sanado. Certa vez,
visitando um lugar, no meio da juventude, fiquei espantada
com a postura angelical exagerada de um jovem que estava
a serviço do local onde fiquei alguns momentos.
Era um verdadeiro estereótipo de santo, sussurrava como
se somente o céu o ouvisse, olhava ao redor e não via
ninguém, parecia imerso num mundo à parte, seus gestos
quase o faziam voar... Uma grande ilusão... No fundo,
quando o buscávamos através de seu olhar, a tristeza surgia,
a angústia parecia gritar, o coração, na verdade, não
confirmava seus gestos exteriores. Era uma visão caricaturada
de uma realidade que é plenamente viável a todos nós.
Com certeza, tudo isso que presenciei não foi na sua cidade,
na sua diocese ou na sua paróquia. Foi numa terra longínqua,
num continente ainda não explorado por nós. Você deve
estar pensando que sou um pouquinho exagerada e lhe dou
razão, mas o exemplo, envolto num tom de brincadeira,
é claro e nos faz pensar sobre o conceito de santidade
e sua exigência.
Eu acredito nos santos de calça Jeans e tênis, que estudam,
que trabalham, que lutam corajosamente por um ideal e
o perseguem até as últimas consequências; nos santos humanos,
de "carne e osso", que se alegram, que se entristecem,
que espalham a beleza de seu sorriso, mas também sabem
chorar quando sofrem ou se compadecem. E você, como entende
a santidade? Já pensou que você é um
escolhido, pupila dos olhos de Deus, para ser santo? É
verdade! Santo neste final de milênio; nesta sociedade,
às vezes, confusa; na Universidade que você frequenta;
no meio de seus companheiros de trabalho; na sua paróquia;
na família (difícil, hein!). Difícil, mas desafiador para
o seu coração que tem grande capacidade de amar, para
a sua bravura, para a sua coragem, para o seu pensar alto.
Eu creio nos santos que não trocam a vida por um minuto
sequer de prazer fugaz, mas que aproveitam os
momentos de prazer, de beleza, que a vida oferece. Santos
que vivem uma sexualidade sadia e equilibrada, e não reduzem
o amor ao erotismo e aos desejos egoístas.
Acredito nos santos que não se escondem atrás de seus
bens, do Ter, mas com sabedoria e generosidade administram
os dons que possuem, com os olhos fixos no "Tesouro" que
não passa e abrem suas mãos como se estivessem derramando
sementes que irão brotar em alegria, partilha e solidariedade.
Creio nos jovens que podem ser santos, que no dia-a-dia
celebram vigorosamente o Dom da vida e demonstram, através
de gestos notáveis e acertados, que encontraram o sentido
de sua existência. Não passam suas vidas perdidos em divagações,
em pensamentos fúteis, sem estarem orientados para uma
causa nobre, um fim que lhes valha a pena viver. Com certeza,
são aqueles que procuram agir
segundo a consciência formada nas fontes do Evangelho
e da Igreja, e buscam, na formação permanente, fundamentos
sólidos para orientar suas vidas, conquistando a capacidade
de romper a barreira da banalidade, do "Todo mundo faz!".
Nosso coração exulta quando esbarramos em santos cujo
"ser imagem e semelhança de Deus", filho amado e dileto,
é inegociável. Não se deixam levar pela onda das coisas
que passam, daquilo que pode corromper ou destruir ou,
mesmo, de tudo aquilo que nada constrói.
Recordo-me de São Paulo, quando exortou a comunidade dos
Filipenses: "Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é nobre,
tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável,
tudo o que é de boa fama, tudo o que é virtuoso e louvável,
eis o que deve ocupar vossos pensamentos. O que aprendestes
e recebestes e ouvistes e observastes em mim, isto praticai,
e o Deus da paz estará convosco" (Fil 4, 8-9).
Entender a santidade como algo inacessível, distante da
realidade do ser humano, é não entender nada sobre o amor
misericordioso de Deus por nós; é negar a participação
do homem neste mistério onde o próprio Deus nos permite
participar. A santidade é graça de Deus, mas é também
colaboração humana, é esforço humano. Devemos raciocinar
sob o prisma do Amor que se deu todo a nós, através do
Mistério da Encarnação do Filho de Deus. Deus não nos
pediria, não nos imprimiria com o selo do chamado à santidade,
se não fosse um Dom reservado ao homem, ao ser humano.
Anjos são anjos, e nunca poderão ser homens; o homem é
homem, e jamais poderá ser anjo, embora deseje algumas
vezes. A santidade consiste em ser plenamente aquilo que
Deus deseja que sejamos; e não uma caricatura, uma imagem
falsa, um ser mascarado.
Citei o Apóstolo Paulo, e gostaria de fazer referência
também a Santa Teresinha do Menino Jesus, que foi considerada
pelo Santo Padre João Paulo II um modelo atual de santidade
e vida para toda a juventude. Esta Santa, que é Doutora
da Ciência do Amor, morreu com apenas 24 anos de idade,
e nos deixou todo um legado de sabedoria e bons exemplos
que devem ser seguidos, postos como meta em nossa vida.
Santa Teresinha, na flor de sua idade, não reservou sobras
para Deus, mas foi a própria primícia, deu-se a Deus como
um tesouro inigualável.
Creio, meu caríssimo jovem, que ser santo hoje não só
é possível, mas é o único caminho escolhido para nós;
e esforçar-se por conseguir isto é dar-se como primícia,
é dar-se inteiro naquilo que somos, que temos e sonhamos.
Deixo para sua meditação um belíssimo pensamento de nossa
Santa Teresinha:
"Neste mundo não nos devemos apegar a nada, nem mesmo
às coisas mais inocentes, pois todas nos faltam e nos
fogem no momento em que menos pensamos. Somente o que
é eterno nos pode contentar."
(*
Cássia Quelho Tavares é responsável pelo Centro Missionário
Rumo ao 3o Milênio Vicariato Suburbano – RJ –
e pregadora do quadro Reflexão do Programa Renova Rio,
da Rádio Catedral FM 106,7, RJ.)
Fonte: "Revista Jesus Vive e é o Senhor"
– Comunidade Emanuel