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A palavra liturgia
significa ação do povo (leitós ergon). Nos meios católicos,
quando se fala em Liturgia, já se pensa em templo, altar, Missa,
Sacramentos, etc. Mas essa realidade tem que ser diferente,
mesmo porque o conceito de Liturgia é anterior ao Cristianismo,
mais velho do que a Igreja. Os hebreus e os outros povos já
faziam liturgias. Só mais tarde é que a Igreja a assumiu e batizou.
Firmemo-nos, portanto, no conceito verbal, primitivo, sem conotações
de fé, religião, altar. Imaginemos um encontro de duas pessoas
que se estimam, que se amam... De início, a explosão de alegria
sem medidas, sem contornos; depois, um grande abraço, dois beijinhos,
sorrisos, brilho nos olhos, uma conversa gostosa... Podemos
dizer que, nesse encontro, aconteceram uma liturgia e um rito:
a liturgia foi o encontro e toda a efusão de sentimentos que
esse encontro provocou; o rito foi a formalização do encontro:
um abraço (somente um), dois beijinhos (somente dois). Temos
aí uma atitude essencialmente humana, imanente, existencial.
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Podemos agora
entrar na Igreja. De vários modos definimos a Liturgia Católica:
é festa, é encontro, é relação, é culminância de relacionamentos.
Vamos nos questionar sobre o sentido exato dessas definições,
sobre o que, de fato, acontece conosco quando celebramos:
a. Liturgia-Festa - Nos dias festivos (domingos, etc.),
arma-se um arcabouço de festa externa que acaba se transformando
em enfeite da Liturgia. Nos outros dias, sem enfeites, caímos
na real. Ora, a Liturgia deve ter um sentido de festa que lhe
é intrínseco, que não depende de aparatos externos para ser
festa. Não se pretende, porém, negar que o aparato externo aumenta-lhe
o brilho. Mesmo com a montagem externa, será que nossos sentimentos
são de festa? Poderíamos comparar a "festa" de nossas liturgias
com aquela festa acontecida no encontro de amigos lá na rua,
com abraços e beijos? Nossas liturgias e os nossos encontros
teriam o mesmo sentido? Falta-nos muito para transformar nossas
liturgias em festa.
b. Liturgia-Encontro - Chegados ao templo, vamos nos
sentado, isto é, vamos nos aglutinando lado a lado. Às vezes
arriscamos um "bom dia" tímido e vamos cuidando de nossas orações
particulares. Assim acontece nosso encontrocom o irmão, na Liturgia.
Embora fisicamente próximos, nossa Liturgia é uma celebração
de separados. E já estamos, de tal modo, condicionados por essa
separação que, quando alguém murmura algo, tenta dizer alguma
coisa ao vizinho ou companheiro, soa mal, é motivo de reprovação.
Em alguns lugares, há até pessoas atentas a reprimir qualquer
"abuso" no templo. Neste caso, o templo adquire tal sacralidade
que abafa as pessoas. Invertendo os valores, o templo é sagrado
e nós não somos nada. Só para lembrar, algumas vezes somos definidos
como templos do Espírito Santo, mas isso não é pra valer...
A situação criada pelo silêncio sagrado, constrangedor, terrível,
transforma a Liturgia em celebração intimista: cada um celebra
para si mesmo, cada um se dirige a Deus de modo muito pessoal,
privado. Neste caso, aquela definição de Liturgia segundo a
qual os irmãos celebram entre si e com Jesus Cristo acaba combaleando
entre o ser e o não ser: é celebração dos irmãos reunidos, mas
não unidos; é celebração com Jesus Cristo, isto é, cada um com
Ele.
c. Liturgia-Relação - O exercício de qualquer virtude,
bem como a prestação de qualquer serviço ou a manifestação de
um testemunho requer sempre relação com outrem, alteridade.
Ser fraternal consigo mesmo é puro egoísmo. A Liturgia, por
ser ação, é essencialmente relação. Celebrar é entrar em comunhão,
é passar do eu para o nós, da minha para a nossa Missa.
d. Culminância de Relacionamentos - Essa é uma das definições
da Santa Missa. Ora, se ela é culminância, supõe outros relacionamentos
servindo-lhe de degraus. Saltar da planície para o cume do monte
pode ser desastroso e é isso mesmo que nos tem acontecido: fomos
levados para a Santa Missa ser ter sido iniciados em celebrações
menores, sem ter recebido iniciação celebrativa. Daí, ocorre
que a Santa Missa é culminância sem degraus. Quem não fez outros
relacionamentos antes da Santa Missa, isto é, quem passou a
semana vazio de boas ações não tem motivos para celebrar no
domingo1. Quem não aprendeu a tomar uma xícara de
chá, não saberá servir-se num banquete.
Pelo que acabamos de ver, a Liturgia começa lá fora, na rua,
em casa, no escritório e culmina no altar. Lembremos o conselho
de Jesus: "Se tu vais fazer uma oferenda no altar e te lembras
de que teu irmão tem algo contra ti, vai primeiro te reconciliar
com teu irmão, depois volta para fazer tua oferenda". Se a liturgia
começa lá fora e culmina no altar, a pastoral, que é a salvação
em exercício, começa no altar e se projeta pela vida. Somente
assim se pode entender como a Liturgia é fonte e cume da vida
cristã: fonte, começando em casa; e cume, concluindo-se no altar,
na comunhão dos irmãos com Jesus Cristo.
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Liturgia é
ação, força, vida. É comunicação. O rito é a formalização da
Liturgia. Formalização metódica que busca alcançar o objetivo
da celebração sem detalhes supérfluos, sem rodeios desnecessários.
O rito não é essencial à celebração (no sentido de que não possa
ser mudado), mas lhe é necessário, isto é, não pode ser dispensado
ou alterado à revelia, ao gosto de cada um. É função do rito
conduzir a comunidade num gesto harmônico, igual, capaz de promover
a comunhão. A Igreja permite que se façam adaptações na Liturgia,
de modo especial no rito, desde que ocorra necessidade de inculturação,
de explicitação mais inteligível do mistério, de evitar conflitos
com os costumes de um povo e que não se adultere o conteúdo
essencial da Liturgia. Tudo isso exige formação litúrgica da
parte de quem faz a adaptação.
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Equipe não
é grupo de trabalho. No grupo de trabalho, pode cada um executar
sua função independente das funções dos outros. No final, todos
se encontram. Tarefeiros não formam equipe. A tarefa é ação
isolada enquanto a equipe exerce ação conjunta. De certo modo,
a equipe tolhe parte da liberdade dos seus membros. Na máquina,
as peças estão todas atreladas umas às outra, de tal modo que
não podem ser soltar. A equipe não age como máquina, mas seus
componentes têm de ceder parte do seu egoísmo e amor próprio
para que, conscientemente, assumam o compromisso de fazer funcionar
alguma coisa. Uma equipe será tanto mais harmoniosa quanto mais
seus membros se dispuserem a criar uma alma coletiva. Isto não
significa que os membros de uma equipe devam abdicar de sua
personalidade. Significa, isto sim, que cada um pode e deve
agir como os outros pensam, mesmo pensando de modo diferente.
E não basta agir; tem de assumir. É assim que deve ser uma Equipe
de Liturgia.
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A liturgia
é um conjunto de sinais e símbolos. O sinal é alguma coisa que
significa, representa, simboliza, exprime, traduz. Não basta
fazer ações litúrgicas, importa saber o que essas ações significam.
É necessário saber o setido dos sinais. Diane de qualquer imagem
desconhecida, estranha ou esquisita, vêm-nos à mente uma pergunta:
qual o significado disso? Com essa pergunta, estamos afirmando
que tal figura tem um significado e, neste caso, a figura é
significante. A relação porventura existente entre o significado
e o significante é a significância. O significante é sempre
menor do que o significado (ex.: uma placa de trânsito indicando
passagem de nível - se você não parar, não olhar e não escutar,
poderá ser triturado por uma locomotiva. Ainda na sinalização
de trânsito: uma pequena placa com seta indica rumo à direita;
se você entrar para a esquerda... Um cabo de vassoura fincado
no meio do asfalto pode indicar um enorme buraco. Um galho de
árvore na curva da estrada indica um grave acidente, um caminhão
tombado na pista, etc.). Como se vê, há uma enorme desproporção
entre o valor do sinal e o seu significado. Na Liturgia, essa
diferença é ainda maior: a vela acesa significa a ressurreição
de Jesus, a Vida do Ressuscitado, a Páscoa; tomar água significa
regeneração, morte e ressurreição, a filiação divina; o desenho
de um peixe significa Jesus Cristo; um pão ou um cesto de pães
significam a Eucaristia; a cruz significa a Redenção... Usemos,
agora, um outro exemplo para compreendermos a significância:
entre a luz vermelha de um semáforo e a interrupção do trânsito
existe apenas uma convenção. O mesmo sinal vermelho é posto
na carteira do aluno gazeteiro ou no livro-caixa da empresa
e não guarda nenhuma relação com o significado, não existe significância.
Já entre água e regeneração, existe uma relação íntima e profunda.
O círio é a vela símbolo da ressurreição. O mistério da chama
que sempre se renova na cremação do combustível é símbolo da
vida que nunca se acaba; enquanto houver pavio e cera, a chama
será sempre outra. No Batismo, entrega-se à criança uma vela
que terá sido acendida na chama do círio pascal, para significar
que, pelo batismo, comunica-se ao crente a vida do Cristo que
não morre mais. Os sinais devem ser claros e inteligíveis de
tal modo que o observador não encontre maiores dificuldades
em relacionar o significante com seu significado. Essa relação
é a significância. Os símbolos são um pouco diferentes: para
seu claro entendimento, há necessidade de uma iniciação. Peixe,
em grego, é IXTUS, que corresponde à sigla formada pelas iniciais
de Jesus Cristo, Filho de Deus Salvador. A flor de liz é o símbolo
de Maria; sobrepondo-se à flor de liz as iniciais XP (Cristo),
temos: Cristo, nascido de Maria. Peixes e um cesto de pão significam
alimento que dá a vida eterna. Tanto na sinalética quanto na
simbologia, significância é a relação existente entre o significante
e o significado.
1Uma
pessoa sem vivência cristã, "vazia por dentro", se for à Igreja,
talvez ainda consiga aproveitar a Palavra.
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