Pe. David Francisquini
Há uma proliferação
de seitas protestantes no Brasil, em boa parte devido
ao fato de que considerável número de sacerdotes
católicos, tendo aderido à chamada "teologia
da libertação", quase só se preocupa
com questões sociais, deixando o povo praticamente
sem pregação religiosa.
Os católicos, amiúde são atacados
pelos adeptos de tais seitas com uma chusma de pequenas questões
relativas principalmente à Sagrada Escritura, as quais,
muitas vezes, não sabem, de momento, responder. Assim
sendo, leitores de Catolicismo pedem que lhes seja concedido
um auxílio nesse sentido. Em vista disso, foram selecionadas
parte das perguntas dirigidas à revista. Apresentamos
abaixo respostas de autoria do Revmo. Pe. David Francisquini,
amigo e leitor de Catolicismo desde o início da década
de 60. O autor é capelão da Igreja do Imaculado
Coração de Maria, em Cardoso Moreira (RJ).
Embora sejam utilizados de preferência, nessas
respostas, textos da Bíblia, convém deixar claro
que a Sagrada Escritura não é a única
fonte de verdade religiosa. Há também a Tradição,
originada no ensinamento verbal dos Apóstolos e fielmente
recolhida pelos antigos Padres da Igreja, sem a qual a própria
interpretação da Sagrada Escritura fica difícil
de se fazer. O "livre exame" protestante, segundo o qual cada
um interpreta o texto bíblico como quer, é fonte
de confusão e de erro.
Esperamos, dessa forma, que tal matéria verdadeira
cartilha contra erros protestantes nos dias de hoje seja
de utilidade para os prezados leitores da revista.
1 Por que os católicos
dizem que o Senhor Jesus é Deus?
Nós, católicos, acreditamos que Jesus Cristo
é Deus. Primeiramente, pelo dom precioso da fé
que gratuitamente recebemos e que está à disposição
de todos os que não se fecham para ele o qual dispensa
demonstrações.
Em segundo lugar, porque isto vem provado nas Sagradas
Escrituras com as próprias palavras do Redentor e testemunhos
de outros. Jesus Cristo é aí referido ora como
Deus, ora como Filho de Deus, o que, para efeito de provar
sua divindade, dá na mesma. Pois o Filho tem a mesma
natureza do Pai. Nós, simples mortais, podemos ser
filhos adotivos de Deus. Filho de Deus propriamente, por natureza,
gerado desde toda a Eternidade, só Jesus Cristo: "Tu
és meu filho, eu te gerei hoje" (Sl 2, 7; Act 13, 35;
Heb 1,5 e 5,5).
Jesus Cristo, ademais de ser verdadeiro Deus, é
verdadeiro homem. Houve hereges que negaram a natureza humana
de Jesus Cristo. Para eles, Jesus seria somente Deus e seu
corpo uma espécie de fantasma sem substância,
apenas para ser visto. Mas aqui não nos ocuparemos
desses hereges, pois se perderam na noite dos tempos. Vejamos
algumas passagens da Escritura que nos falam da divindade
de Jesus Cristo.
Por exemplo, quando Caifás conjurou-O, "em
nome do Deus vivo" a dizer se era "o Cristo, o Filho de Deus",
respondeu Jesus: "Sim. Além disso eu Vos declaro que
vereis doravante o Filho do Homem [Ele mesmo] sentar-se à
direita do Todo-Poderoso, e voltar sobre as nuvens do céu"
(Mt 26, 63-64, Mc 14, 61,62; Lc 22, 67-70). Os sacerdotes
judeus compreenderam bem toda a extensão dessa afirmação,
pois rasgaram as vestes dizendo que Ele blasfemara e que,
por isso, era réu de morte. Teria Jesus cometido um
perjúrio?, cabe perguntar aos protestantes. Deus nos
livre de o pensar!
Já antes, na festa da Dedicação,
aos judeus que O rodearam perguntando peremptoriamente:
"Até quando nos deixarás na incerteza? Se tu
és o Cristo, dize-nos claramente" , respondeu-lhes
Nosso Senhor: "Eu vo-lo digo, mas não credes. As obras
que faço em nome de meu Pai dão testemunho de
mim. Entretanto, não credes, porque não sois
das minhas ovelhas ... Eu e o Pai somos um" (Jo 10, 24 a 30).
Ora, ouvindo isso os judeus quiseram apedrejá-Lo
"porque, sendo homem te fazes passar por Deus". Cristo Jesus
não os desmentiu; pelo contrário, admoestou-os:
"como acusais de blasfemo aquele a quem o Pai santificou e
enviou ao mundo, porque eu disse: Sou o filho de Deus? Se
eu não faço as obras de meu Pai, não
me credes. Mas se as faço, e se não quiserdes
crer em mim, crede nas minhas obras, para que saibais e reconheçais
que o Pai está em mim e eu no Pai" (id., 36 a 38).
Estando uma vez em Cesaréia de Felipe, perguntou
Jesus aos Apóstolos: "No dizer do povo, quem é
o Filho do homem?" Eles responderam "Uns dizem que é
João Batista, outros, Elias; outros, Jeremias ou um
dos profetas". Perguntou-lhes Jesus: "E vós, quem dizeis
que sou?" São Pedro, adiantando-se, respondeu: "Tu
és o Cristo, Filho do Deus vivo!" Ao que respondeu
Cristo Jesus: "Feliz és, Simão, filho de Jonas,
porque não foi a carne nem o sangue quem te revelou
isto, mas meu Pai, que está nos Céus" (Mt 16,
13 a 17). Não podia ser mais claro. Essa profissão
de fé mereceu a São Pedro ser declarado como
a pedra angular da Igreja.
Quando Jesus Cristo foi batizado por São João
Batista, "eis que se abriram os céus, viu o Espírito
de Deus descer como uma pomba e vir sobre Ele. E eis que ouviu
uma voz do céu que dizia: Este é o meu Filho
muito amado, no qual pus as minhas complacências" (Mt
3, 16-17), o que ocorreu também durante a Transfiguração
no Monte Tabor, com o seguinte acréscimo: "Escutai-O".
Há várias outras passagens nas quais
Jesus afirma Sua divindade. E isso os Apóstolos e os
Discípulos creram, tanto assim que o ensinaram em seus
escritos e pregações. São João
começa o seu Evangelho dizendo: "No princípio
era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era
Deus". E para que não ficasse dúvida, esclareceu:
"E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós" (Jo 1,
1 e 14). E conclui seu Evangelho com estas palavras: "Estas
coisas foram escritas para que creiais que Jesus é
o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida
em Seu nome" (Jo 20, 31). Por sua vez, São Marcos inicia
assim seu Evangelho: "Princípio da Boa Nova, de Jesus
Cristo, Filho de Deus" (1, 1).
Portanto os protestantes, que dizem seguir a Bíblia
à risca, para serem coerentes consigo mesmos deveriam
reconhecer a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo.
2 Por que os católicos
cultuam Maria e os Santos, quando está escrito que
Jesus é o único Mediador?
Realmente, São Paulo afirma em sua primeira
epístola a Timóteo (2, 5), que "há um
só Deus e há um só mediador entre Deus
e os homens que é Jesus Cristo". Essa afirmação
não exclui que possa haver outros mediadores secundários,
pois o próprio Apóstolo dos Gentios é
o primeiro a pedir a intercessão de outros junto a
Deus. Assim, diz aos romanos: "Rogo-vos, pois, irmãos,
por Nosso Senhor Jesus Cristo, e pelo amor do Espírito
Santo, que me ajudeis com as vossas orações
por mim a Deus" (Rom 15, 30); aos Corintos diz que espera
que Deus o livrará de futuros grandes perigos, "se
nos ajudardes também vós com orações
em nossa intenção " (2 Cor 1, 9-11).
3 Mas vocês, católicos,
substituem o Senhor Jesus por Maria.
Nós, católicos, temos e é a única
atitude coerente uma profunda veneração, e
não adoração, a Maria Santíssima.
Se reconhecemos que Jesus Cristo é Deus, temos que
reconhecer que Ela é a Mãe de Deus. Só
esse fato já mereceria de nossa parte essa veneração
especial. Se devemos honrar pai e mãe, Cristo
Jesus deixaria de dar-nos nisso o mais exímio exemplo,
ainda mais com tal Mãe? Ficaria Ele magoado com nossa
veneração a sua santa Mãe?
No Pequeno Ofício da Imaculada Conceição
figura o seguinte raciocínio, claro, lógico,
adamantino para demonstrar que Maria foi isenta do pecado
original: "Por decoro do Filho não podia o labéu
de Eva macular Maria"; e, "não podia tal Mãe
assim eleita, por um momento à culpa estar sujeita".
Sendo Deus todo-poderoso, deixaria de fazer qualquer exceção,
superar qualquer regra em favor dAquela que escolheu para
Mãe do seu Verbo?
Aqui aplica-se o axioma da Igreja: Podia, queria,
logo fez. Quer dizer, Deus quer o mais perfeito. Poderia tomar
uma carne que fosse a da mais perfeita das criaturas. Podendo
fazer isso, querendo fazê-lo, por que não
haveria de tê-lo feito?
Nossa Senhora, pelo papel que teve na Redenção,
tornou-se Medianeira entre nós e Jesus Cristo.
Não é uma mediação independente,
diferente da do Filho, mas de participação,
por vontade divina, na mediação de Cristo Jesus.
É uma associação da Mãe à
mediação de seu Divino Filho.
4 Mas onde se encontra, nas
Sagradas Escrituras, base para isso?
Narra o evangelista São Lucas que, indo Maria
Santíssima visitar sua prima Santa Isabel, que esperava
o futuro São João Batista, saudou-a. "Ora, apenas
Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança
estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito
Santo. E exclamou em alta voz: Bendita és tu entre
as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre" (Lc
1, 41-42). Não se pode negar a evidência de que
o Divino Espírito Santo serviu-Se da voz de Maria para
santificar o menino e cumular a mãe com suas bênçãos.
Também o episódio das Bodas de Caná
mostra, ainda com mais evidência, o poder da intercessão
de Maria Santíssima. Foi por sua insistência
que Jesus, antecipando Sua hora (Jo 2, 4), realizou seu primeiro
milagre público.
5 Como explicam os católicos
a expressão "antes de coabitarem", em Mateus,
1, 18, empregada em relação a José e
a Maria?
Aqui, mais uma vez, é preciso conhecer o contexto
para se compreender essa passagem. Segundo o costume judeu,
o casamento se realizava em duas etapas. Na primeira, embora
os noivos fossem considerados já casados, a esposa
permanecia algum tempo na casa paterna. Na segunda etapa,
os parentes a levavam para a casa do esposo, e aí se
consumava o casamento.
Com a expressão "antes de coabitarem", o Evangelista
dá a entender que a concepção virginal
de Cristo se deu antes que a Virgem Maria estivesse vivendo
na casa de seu castíssimo esposo. O que não
significa que tenham coabitado depois. Como alguém
que diz, fulano estava dormindo e morreu antes de acordar.
Não significa que depois tenha acordado.
Que não houve coabitação se
constata também quando o mesmo Evangelista narra que
São José, percebendo que sua esposa concebera,
não conhecendo o mistério, mas não querendo
difamá-la, resolveu "rejeitá-la secretamente".
Mas o Anjo do Senhor apareceu-lhe em sonhos tranqüilizando-o
e aconselhando-o a recebê-la em sua casa, porque
Ela concebera por obra do Espírito Santo (Mt 1, 20
a 24).
6 E as passagens "Não
a conheceu até que deu à luz um filho..." em
Mateus, e "Seu Filho primogênito" empregadas
por Lucas, não revelam que Maria teve outros filhos
depois?
Nas Sagradas Escrituras, a expressão "até
que" é empregada muitas vezes para indicar um tempo
indeterminado, e não para marcar algo que ainda não
aconteceu, mas acontecerá depois. Assim, por
exemplo, no Salmo (109, 1) Deus Pai, dirigindo-se a Deus Filho,
diz: "Senta-te à minha direita, até que ponha
os teus inimigos por escabelo a teus pés".
Isso não quer dizer que depois disso o Filho
deixará de sentar-se à direita do Pai...
Com relação à expressão
"Filho primogênito", cumpre ressaltar que, entre os
orientais (até mesmo hoje em dia em vários países),
o primeiro filho nascido de um matrimônio tinha uma
ascendência moral sobre todos os outros irmãos
e irmãs que viessem a nascer. Assim se ressaltava que
era o primogênito, ainda que ele viesse a ser o filho
único.
Por isso vê-se aparecer freqüentemente
nas Sagradas Escrituras a expressão "primogênito":
"todo o primogênito do sexo masculino será meu"
(Ex 34, 19-20); "Resgatarás o primogênito dos
teus filhos: e não aparecerás na minha presença
com as mãos vazias" (Num 18, 15).
A expressão "filho primogênito" em São
Lucas é entendida assim, e o foi pela Tradição
oral durante quase um milênio e meio, até surgir
Lutero, que "descobriu" esse detalhe para tentar "provar"
que Maria não permaneceu virgem.
7 E a expressão "a Mãe
e os irmãos de Jesus?"
Nós, que temos a felicidade de sermos católicos
e seguirmos a Tradição e os ensinamentos da
Santa Madre Igreja, cremos firmemente que Maria Santíssima
foi virgem antes, durante e depois do parto. Como se deu isso,
como permaneceu virgem depois do parto? Quem criou os céus
e a terra poderia perfeitamente fazer esse milagre. O corpo
de Nosso Senhor, como Deus e homem, não poderia ter
as características do corpo glorioso, que se manifestassem
em certas ocasiões, como ao nascer? No Tabor, por exemplo,
seu corpo apareceu glorioso. E faz parte das características
de um corpo glorioso atravessar paredes e objetos sem dificuldade
e sem danificá-los.
O grosseiro erro dos protestantes, baseados numa ignorante
interpretação das Escrituras (fruto do "livre
exame"), de que Ela teve filhos depois, é uma injúria
ao próprio Nosso Senhor Jesus Cristo. Não se
compreende como eles não percebem isso.
Analisemos o exemplo dado que é a citação
do Evangelho, "A mãe e irmãos de Jesus". Ora,
é sabido que entre os orientais, os parentes mais próximos
eram chamados de irmãos, como até hoje se dá
em alguns países, notadamente a Índia, onde
em alguns idiomas locais não há palavras para
designar "primo".
Na própria Sagrada Escritura isso está
bem claro no livro de Tobias. Aconselhado pelo Arcanjo Rafael
a casar-se com Sara, filha de Raquel, primo-irmão de
seu pai, assim rezou a Deus: "Senhor, sabeis que não
é por motivo de luxúria que recebo por mulher
esta minha irmã" (Tb 7, 4-6).
Quais são os "irmãos de Jesus" citados pelos
Evangelistas? São Marcos diz que, quando Nosso
Senhor começou a pregar na Sinagoga, vendo Sua sabedoria,
o povo se perguntava: "Não é ele o carpinteiro,
o filho de Maria, o irmão de Tiago, de José,
de Judas e de Simão? Não vivem aqui também
entre nós suas irmãs?" (Mc 6, 3).
São Lucas esclarece que Tiago e Judas eram filhos
de Alfeu ou Cleofas (6, 15-16). Portanto o eram também
José e Simão. Mas não Jesus, que sabemos
que era filho de "José, o carpinteiro". Portanto, não
poderiam ser irmãos carnais.
Por outro lado, São Mateus dá o nome da mãe
deles: "Entre as quais estava ... Maria, mãe de Tiago
e de José" (Mt 27, 56).
Não se pode confundir esta Maria com sua homônima,
esposa de José, o carpinteiro. São João
deixa bem clara essa distinção: "Junto à
cruz de Jesus estava sua mãe e a irmã (prima)
de sua Mãe, Maria, mulher de Cleofas" (Jo 19, 25),
cuja filha se chamava Maria Salomé. São as bem
conhecidas "três Marias".
Aliás, atualmente os protestantes mais cultos
já nem levantam mais essa objeção.
8 - E por que os católicos
adoram imagens, quando está formalmente proibido pelas
Escrituras?
Os católicos não adoram imagens. Elas são
apenas representações de Nosso Senhor, de Nossa
Senhora, dos Anjos ou dos Santos que nos ajudam a lembrar
deles, a amá-los e invocá-los. É o mesmo
que acontece com as fotografias das pessoas que nos são
caras: quando nós gostamos de olhar para tais fotografias,
é nas pessoas que elas representam que estamos pensando,
e não nas fotografias enquanto um pedaço de
papel.
Ademais, é preciso ler em seu contexto, e
não fora dele, os textos da Bíblia, citados
pelos protestantes. Assim, o texto por eles citado vem precedido
por uma frase que explica bem o sentido em que a proibição
de fazer estátuas deve ser compreendido:
"Não terás outros deuses diante de
minha face". Quer dizer, trata-se da proibição
de fazer ídolos, pois os hebreus eram muito inclinados,
pelo exemplo dos povos pagãos vizinhos, à idolatria.
Tendo alertado de que se trata de "outros deuses" portanto,
ídolos continua Deus Nosso Senhor: "Não farás
para ti escultura, nem figura alguma do que está em
cima, nos céus ou embaixo, sobre a terra, ou
nas águas, debaixo da terra". Isso queria dizer que
não se deviam fazer estátuas simbolizando "deuses"
de madeira ou de pedra, sob a forma de um astro, de um pássaro,
de um homem, de um animal, de uma planta ou de um animal aquático
como objetos de adoração.
Isso é fora de dúvida, pois Deus não
pode contradizer-Se a Si próprio. No mesmo livro do
Êxodo, cinco capítulos adiante, ordena a Moisés
que faça dois querubins de ouro, com as asas estendidas,
para cobrir o propiciatório da Arca da Aliança
(Ex 25, 18). Adiante, no livro dos Números, quando,
para punir o povo hebreu que murmurava contra Deus e Moisés,
"o Senhor enviou contra o povo serpentes ardentes, que morderam
e mataram muitos", como Moisés intercedesse pelo
povo, ordenou-lhe que fizesse uma serpente de bronze e a colocasse
num lugar visível e público para que todo aquele
que olhasse para ela, não morresse. Pelo que se tornou
o símbolo da Cruz (Num 21, 5 a 9).
Mais uma vez durante quase mil e quinhentos anos,
a não ser alguns heresiarcas precursores de Lutero,
os iconoclastas houve a veneração das imagens
sem problemas. Pois já nas catacumbas, os primeiros
cristãos, perseguidos, para auxiliar sua fé
tão posta à prova, pintavam e esculpiam naqueles
subterrâneos figuras representando Cristo e Sua
Mãe santíssima. O que mostra de passagem que
o culto também à Mãe de Deus é
tão antigo quanto o próprio Cristianismo.
9 Quero uma prova, com base
na Bíblia, do alegado poder do sacerdote de perdoar
os pecados. Por que não se confessar diretamente a
Deus?
.
A confissão é um dos mais sublimes
Sacramentos da Igreja! Que outra religião pode conceder
a uma alma amargurada pelo peso de seus pecados, infidelidades,
más ações, aquela paz e tranqüilidade
de consciência que só uma confissão bem
feita pode dar?
Mas vamos aos textos bíblicos para responder,
com o Pe. Júlio Maria, ao objetante protestante.
Que o homem peca, experimentamo-lo a cada momento.
O próprio Espírito Santo diz, pela boca do escritor
sagrado: "O justo peca sete vezes por dia" (Pv 24, 16). E
"não há homem que não peque" (Ecle 7,
21). São João é conseqüente: "Aquele
que diz que não tem pecado, faz Deus mentiroso" (1
Jo 1, 10).
Todo homem, pois, é pecador. Deus, pelo contrário,
não é só santíssimo, mas a própria
Santidade. Por isso nenhum homem pode ir a Ele com seu pecado,
como diz o Salmista: "Nesta porta do Senhor, só o justo
pode entrar" (Sl 117, 20); e o Apóstolo: "Os pecadores
não possuirão o reino dos céus".
Como ficam então as coisas? Não é
o homem destinado ao Céu? Tem que haver solução
para esse impasse.
Mais uma vez o divino Espírito Santo, falando pela
boca do escritor sagrado, adverte e dá a solução:
"Aquele que esconde os seus crimes, não será
purificado; [mas] aquele que, pelo contrário, se confessar
e deixar seus crimes, alcançará a misericórdia"
(Pv 28, 13).
O que é ainda enfatizado por São João:
"Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo
para nos perdoar e purificar-nos de toda injustiça"
(1 Jo, 8).
Está bem, dirá o protestante. Mas não
está dito que não podemos nos confessar diretamente
a Deus.
É evidente que Deus pode perdoar diretamente
os pecados, como Nosso Senhor Jesus Cristo afirmou de Si mesmo
em sua vida terrena: "O Filho do homem, na Terra, tem o poder
de perdoar os pecados" (Mt 9, 6). E vemos mesmo que "Jesus
curou um paralítico e lhe disse: tem confiança,
os teus pecados te são perdoados" (Id., 2-7).
Ora, Nosso Senhor comunicou esse privilégio
a Seus Apóstolos quando disse: "Assim como o Pai me
enviou, eu vos envio a vós". Depois, soprando sobre
eles, acrescentou: "Recebei o Espírito Santo. Aqueles
a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados;
e aqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos"
(Jo, 20, 22-23).
Se, de um lado, Cristo Jesus deu aos sacerdotes,
pela sucessão apostólica, o poder de perdoar
os pecados, de outro impôs aos pecadores o dever de
confessá-los. Isso é de bom senso. Por isso
São Tiago diz explicitamente: "Confessai os vossos
pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, a fim de
que sejais salvos" (5, 16). Ora, esse "uns aos outros" quer
dizer, os que não têm o poder de perdoar devem
confessar-se com quem o tem.
Para serem coerentes com o Evangelho como alegam que o
são, os protestantes deveriam confessar-se uns com
os outros, ou, pelo menos, com seus pastores; por sua posição,
seriam eles em tese os mais discretos, e não passariam
adiante o que ouvissem. Mas isso é quase humanamente
impossível sem haver a obrigação do sigilo
sacramental, como temos os sacerdotes católicos.
10 O Papado é uma invenção
de Roma para subjugar as consciências timoratas. No
início não havia diferença entre o bispo
de Roma e os demais bispos.
Vimos acima, em São Mateus 16, 16, a profissão
de fé de São Pedro na divindade de Cristo Nosso
Senhor. Eis o que respondeu-lhe em seguida o Divino
Mestre: "E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre
esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno
não prevalecerão contra ela. Eu te darei as
chaves do reino dos Céus: tudo o que ligares na terra,
será ligado nos Céus, e tudo o que desligares
na terra, será desligado nos Céus" (Mt 13, 18).
Que valor têm essas palavras de Cristo Jesus?
Ele mesmo afirma: "Foi-me dado todo o poder no Céu
e na Terra". Por força desse poder, ordenou Ele: "Ide,
pois, ensinai todas as gentes, batizando-as em nome do Pai,
do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a observar
todas as coisas que vos mandei. Eu estarei convosco todos
os dias, até a consumação do mundo" (Mt
28, 18 a 20).
Para sermos breves, digamos com o Pe. Leonel Franca:
no dia em que viesse a faltar o principado hieraráquico
de Simão, a pedra escolhida pelo Salvador, as portas
do inferno teriam prevalecido. Sem base, o edifício
cairia em inevitável ruína.
Que o primado de Pedro foi reconhecido desde o início
da Igreja, basta ler a farta documentação acumulada
pelo Pe. Leonel Franca em seu substancioso livro A Igreja,
a Reforma e a Civilização, que recomendamos
aos leitores.
11 - Por que os católicos
têm a pretensão de só eles terem a verdadeira
religião? Outros também não a podem ter
legitimamente?
Só há uma Religião verdadeira,
como diz São Paulo aos Efésios: "Há um
só Senhor, uma só fé, um só batismo"
(4, 5). Por outro lado, Cristo Jesus, quando concedeu o primado
a Pedro, disse-lhe: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra
edificarei a minha Igreja" (Mt 16, 18). Ressalta com muita
propriedade o Pe. Júlio Maria que Ele diz "a minha",
para mostrar que só a dEle é a verdadeira Igreja.
Uma Igreja, para ser verdadeira, deve ter quatro
qualidades que a diferencie das não verdadeiras: deve
ser una, santa, católica e apostólica.
Una: deve sê-lo nos pontos essenciais da fé,
culto e em sua constituição hierárquica.
Santa: tem que sê-lo em sua doutrina, em seu culto,
e em muitos de seus membros.
Católica: tem
que ser universal, como diz a palavra, devendo existir em
todas as épocas, e estar difundida pelo mundo inteiro.
Apostólica: deve ter origem nos Apóstolos.
Perguntamos: que Igreja preenche esses requisitos?
Vejamos, por exemplo, a religião protestante.
Não forma uma Igreja una porque está dividida
em várias "denominações" (há mais
de mil seitas, e a cada dia estão surgindo outras);
ademais, não têm unidade de doutrina, nem de
culto, nem de governo.
Não é Santa, nem quanto a seus fundadores,
nem no tocante a suas doutrinas, nem no referente a suas obras.
Lutero foi um homem violento e libidinoso, um sacrílego
concubinatário, cheio de orgulho e pretensão.
Em sua doutrina, afirmou: "Crê firmemente, e peca sem
cuidado", e que "tudo que vem da fé é tão
falso, como é certo que Deus existe" etc. É
uma doutrina baseada na adulteração das Sagradas
Escrituras (só Lutero fez, o que é reconhecido
mesmo por protestantes, mais de 3 mil alterações
na Bíblia) a seu bel prazer: pior ainda, rejeitou muitas
das coisas instituídas por Jesus Cristo.
Essa doutrina não produz a santidade eminente entre
seus membros. O próprio Lutero renegou seus votos,
inclusive o de celibato, juntando-se sacrilegamente com uma
ex-monja, que fez o mesmo. Henrique VIII, fundador do anglicanismo,
casou-se várias vezes, depois de mandar decapitar duas
de suas mulheres. Para ficarmos aqui. O próprio Lutero
disse de seus discípulos: "A maioria dos meus discípulos
são uns epicuros. Eles se chamam reformados: eu os
chamo demônios encarnados ...".
Não é católica, isto é, universal,
pois, como uma só confissão, não existe
desde o princípio, nem está disseminada pelo
mundo inteiro. Suas igrejas são locais, regionais ou
nacionais, não existindo uma igreja universal.
Por fim, não é Apostólica, pois
nasceu em 1518, fundada por um padre apóstata,
desenvolveu-se mediante adulterações da doutrina
dos Apóstolos, um milênio e meio depois da era
apostólica.
12 - Por que a Igreja proíbe
os católicos de lerem a Bíblia?
A Igreja não proíbe. Apenas recomenda
que ela seja lida com cuidado e só em versões
inteiramente fidedignas, para não se resvalar
nesses erros protestantes. O próprio São Pedro
alerta os primeiros fiéis a respeito da dificuldade
de compreensão que há em algumas passagens
de São Paulo: "Reconhecei que a longa paciência
de Nosso Senhor vos é salutar, como também vosso
caríssimo irmão Paulo vos escreveu, segundo
o dom de sabedoria que lhe foi dado. É o que ele faz
em todas as suas cartas, nas quais fala nestes assuntos. Nelas
há algumas passagens difíceis de entender, cujo
sentido os espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos
deturpam, para a sua própria ruína, como o fazem
também com as demais Escrituras" ( 2 Ped 3, 15-16).
E São Lucas, no Ato dos Apóstolos, narra que
o Apóstolo São Felipe foi alertado por um Anjo
para ir à estrada que desce de Jerusalém a Gaza.
Nela viu passar um ministro da rainha Candace, da Etiópia,
lendo Isaías profeta. "[Felipe] perguntou-lhe Porventura
entendes o que estás lendo? Respondeu-lhe [o eunuco]:
"Como é que posso, se não há alguém
que mo explique?. E rogou a Felipe que subisse e se sentasse
junto dele [para explicar-lhe o sentido do que lia]" (Atos,
8, 26 a 31).
O próprio Nosso Senhor admoestou de forma enérgica
os discípulos de Emaús por sua incapacidade
de interpretar as Escrituras: "Ó gente sem inteligência!
Como sois tardos de coração para crerdes tudo
o que anunciaram os profetas!... E, começando por Moisés,
percorrendo todos os profetas, explicava-lhes o que dEle se
achava dito em todas as Escrituras" (Luc 24, 25 a 27).
Revolução Protestante,
na origem da Revolução Francesa e da
Revolução Comunista
Revolução
Protestante
"O orgulho e a sensualidade, em cuja satisfação
está o prazer da vida pagã, suscitaram
o protestantismo.
"O orgulho deu origem ao espírito de dúvida,
ao livre exame, à interpretação
naturalista da Escritura. Produziu ele a insurreição
contra a autoridade eclesiástica, expressa
em todas as seitas pela negação do caráter
monárquico da Igreja Universal, isto é,
pela revolta contra o Papado. Algumas, mais radicais,
negaram também o que se poderia chamar a alta
aristocracia da Igreja, ou seja, os Bispos, seus Príncipes.
Outras ainda negaram o próprio sacerdócio
hierárquico, reduzindo-o a mera delegação
do povo, único detentor verdadeiro do poder
sacerdotal.
"No plano moral, o triunfo da sensualidade no protestantismo
se afirmou pela supressão do celibato eclesiástico
e pela introdução do divórcio".
Revolução
Francesa
"Profundamente afim com o protestantismo, herdeira
dele e do neopaganismo renascentista, a Revolução
Francesa realizou uma obra de todo em todo simétrica
à da Pseudo-Reforma [protestante]. A Igreja
Constitucional que ela, antes de naufragar no deísmo
e no ateísmo, tentou fundar, era uma adaptação
da Igreja da França ao espírito do protestantismo.
E a obra política da Revolução
Francesa não foi senão a transposição,
para o âmbito do Estado, da "reforma" que as
seitas protestantes mais radicais adotaram em matéria
de organização eclesiástica:
· Revolta contra o Rei, simétrica
à revolta contra o Papa;
· Revolta da plebe contra os nobres, simétrica
à revolta da "plebe" eclesiástica, isto
é, dos fiéis, contra a "aristocracia"
da Igreja, isto é, o Clero;
· Afirmação da soberania popular,
simétrica ao governo de certas seitas, em medida
maior ou menor, pelos fiéis".
Revolução
Comunista
"No protestantismo nasceram algumas seitas
que, transpondo diretamente suas tendências
religiosas para o campo político, prepararam
o advento do espírito republicano. São
Francisco de Sales, no século XVII, premuniu
contra estas tendências republicanas o Duque
de Sabóia. Outras, indo mais longe, adotaram
princípios que, se não se chamarem comunistas
em todo o sentido hodierno do termo, são pelo
menos pré-comunistas.
"Da Revolução Francesa nasceu o movimento
comunista de Babeuf. E mais tarde, do espírito
cada vez mais vivaz da Revolução, irromperam
as escolas do comunismo utópico do século
XIX e o comunismo dito científico de Marx.
"E o que de mais lógico? O deísmo
tem como fruto normal o ateísmo. A sensualidade,
revoltada contra os frágeis obstáculos
do divórcio, tende por si mesma ao amor livre.
O orgulho, inimigo de toda superioridade, haveria
de investir contra a última desigualdade, isto
é, a de fortunas. E assim, ébrio de
sonhos de República Universal, de supressão
de toda autoridade eclesiástica ou civil, de
abolição de qualquer Igreja e, depois
de uma ditadura operária de transição,
também do próprio Estado, aí
está o neobárbaro do século XX,
produto mais recente e mais extremado do processo
revolucionário".
(Excertos extraídos da obra de Plinio Corrêa
de Oliveira, Revolução e Contra-Revolução,
Artpress, São Paulo, 4a. edição,
1988, pp. 27 a 30).
A AUSTERIDADE PROTESTANTE
"Outra objeção poderia vir
do fato de que certas seitas protestantes
são de uma austeridade que toca as
raias do exagero. Como, pois, explicar todo
o protestantismo por uma explosão do
desejo de gozar a vida?
RESP.: "Ainda aqui, a objeção
não é difícil de resolver.
Penetrando em certos ambientes, a Revolução
encontrou muito vivaz o amor à austeridade.
Assim, formou-se um "coágulo". E, se
bem que ela aí tenha conseguido em
matéria de orgulho todos os triunfos,
não alcançou êxitos iguais
em matéria de sensualidade. Em tais
ambientes, goza-se a vida por meio dos discretos
deleites do orgulho, e não pelas grosseiras
delícias da carne. Pode até
ser que a austeridade, acalentada pelo orgulho
exacerbado, tenha reagido exageradamente contra
a sensualidade. Mas essa reação,
por mais obstinada que seja, é estéril:
cedo ou tarde, por inanição
ou pela violência, será destroçada
pela Revolução. Pois não
é de um puritanismo hirto, frio, mumificado,
que pode partir o sopro de vida que regenerará
a Terra".
(Plinio Corrêa de Oliveira, op. cit.,
p. 50) |
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