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A Grandeza da Mãe
de Deus
Imaculada Conceição
Perpétua Virgindade
de Maria Santíssima
A sua Maternidade Divina
e a sua Assunção Gloriosa
Nossa Senhora - A Grandeza da Mãe
de Deus
- Respondendo uma objeção protestante
- Os Evangelhos falam pouco de Nossa Senhora
- Os pretensos "irmãos de Jesus"
- A perpétua virgindade da Santíssima
Virgem
- Nossa Senhora era Virgem antes do parto
- Nossa Senhora permaneceu Virgem durante o
parto
- Nossa Senhora permaneceu virgem após
o parto
- Desfazendo objeções protestantes
a) "antes de coabitarem"
b) "filho primogênito"
c) "não a conhecia até que ela desse
à luz"
- A Imaculada Conceição
- Em que consiste
- Como se dá a transmissão do
Pecado Original
- A Exceção à Lei Geral
- Provas da Sagrada Escritura
- Na Tradição dos primeiros séculos
- Um pequeno soneto que o demônio foi obrigado
a compor
- Nossa Senhora, Mãe de Deus
- A "Pessoa" de Nosso Senhor Jesus Cristo
- Negando-se a maternidade divina, nega-se a
Redenção de Nosso Senhor
- O Concílio de Éfeso
- Provas das Santas Escrituras
- A doutrina dos Santos Padres: a Tradição
gloriosa da Igreja
- Conclusão - O dever de Culto à
Mãe de Deus
- A Assunção Gloriosa da Mãe
de Deus
- Medianeira Universal de todas as Graças
- em breve
- Co-Redentora - em breve
Respondendo
a algumas objeções protestantes
- Os Evangelhos
falam pouco de Nossa Senhora
- Uma objeção comum dos protestantes é
de que o Novo Testamento pouco fala de Nossa Senhora. Logo,
eles concluem que Maria Santíssima não tem tanta
importância, pois se tivesse, as épístolas
do com certeza ensinariam a respeito.
- O fato do Novo Testamento, aparentemente, pouco falar de
Nossa Senhora não significa muita coisa. Os Evangelhos
apenas tratam da "Vida Pública" de Nosso Senhor,
durante apenas 3 anos de sua vida. As Epístolas tratam
da expansão da Igreja de Cristo.
- Pelo raciocínio protestante, a
chamada "vida oculta" de Nosso Senhor (até os
30 anos de idade) significaria que durante 30 anos de sua vida,
Nosso Senhor não tinha muita importância...
- Ora, Jesus Cristo passou 30 anos com Nossa
Senhora e só 3 anos com o resto da humanidade. Será
que isso já não é sinal de que há
muitas coisas que não conhecemos da vida de Nosso Senhor
e de Nossa Senhora? "Há ainda muitas coisas feitas
por Jesus, as quais, se se escrevessem uma por uma, creio que
este mundo não poderia conter os livros que se deveriam
escrever" (Jo 21,25).
- Pois bem, já por ái se percebe
a precipitação do raciocínio de alguns
protestantes.
- Agora podemos analisar se, de fato, os
Evangelhos falam pouco de Nossa Senhora.
- Os católicos conhecem a obra prima
de Deus, que é Nossa Senhora, a criatura mais perfeita
que foi criada, onde Deus escolheu como tabernáculo para
si: "Cristo, porém, apareceu como um pontífice
dos bens futuros. Entrou no tabernáculo mais excelente
e perfeito, não construído por mãos humanas,
nem mesmo deste mundo" (Hebr 9, 12).
- Esse tarbenáculo mais excelente
e perfeito foi saudado pelo Arcanjo S. Gabriel: "Ave, cheia
de graça. O Senhor é convosco". Quanta grandeza
apenas nessas palavras. Nossa Senhora tinha a graça de
Deus e Deus era com Ela ainda antes da concepção...
- Naquele momento se cumpria todas as profecias
da vinda do Messias. Era o momento da encarnação
do Verbo de Deus, onde tudo dependia de um consentimento de
uma "virgem", o seu "sim" nos trouxe o Messias
esperado.
- A maneira da saudação angélica
transparece a grandeza de Nossa Senhora, pois o Anjo a saúda
com a "Ave, Cheia de Graça". Ele troca o nome
"Maria" pela qualidade "Cheia de Graça",
como Deus desejou chamá-la.
- Ela era a criatura que havia "achado
graça diante de Deus" e, por isso, foi escolhida
como a Mãe Dele.
- E continua o Arcanjo: "Bendita sois
vós entre as mulheres."
- Poucas palavras - e palavras tão
simples - para mostrar o fato central do cristianismo: a encarnação
do Verbo de Deus. Um fato esperado pelos séculos, cujo
os profetas não viram... apesar de tanto terem desejado.
Todas as profecias do Antigo Testamento inclinam-se diante dessas
poucas palavras. Todo o Novo Evangelho é conseqüência
dessa encarnação, e todo o Antigo Testamento era
o prenúncio do que ocorria naquele momento, naquele pequeno
cômodo da casa de Nazaré, onde uma Virgem recebia
a visita de um enviado de Deus.
- Que maravilha da graça se operava
naquele momento, quando a Virgem Maria cooperava, pelo livre
consentimento de sua fé, de sua virgindade, de sua humildade,
para o mistério inicial do Cristianismo, coberta pela
sombra do altíssimo, revestida do Espírito Santo,
e concebendo, em seu seio virginal, o próprio Filho de
Deus!
- Logo em seguida, que culto já não
lhe prestou a própria Santa Izabel quando a aclamou:
"Mãe de meu Senhor": "Donde me vem a dita que
a Mãe de meu Senhor venha visitar-me?" (Lc 1, 43).
E, no ventre de Santa Izabel, exultava S. João Batista
ao ouvir a voz de Nossa Senhora.
- Santa Izabel, repleta do Espírito
Santo, exclama em alta voz, repetindo e completando as palavras
do Anjo: "Bendita sois vós entre todas as mulheres;
bendito é o fruto do vosso ventre!".
- E a própria Nossa Senhora completa,
inspirada pelo Espírito de Deus: "De hoje em diante
todas as gerações me chamarão bem-aventurada,
porque Aquele que é todo poderoso fez em mim grandes
coisas!" (Lc 1, 48).
- Já na manjedoura os Reis Magos
foram adorar o Menino-Deus "nos braços de Maria, sua
mãe" (Mt 2, 11), como fazem todos os católicos
do mundo inteiro.
- E o velho Simeão, profetizando,
associa a Virgem Mãe de Deus a todas as contradições
a que estaria sujeito o seu Filho, e de modo particular ao gládio
de dor que deverá uní-lo no grande suplício
(Lc 2, 34).
- E como poderia ser menor a grandeza Daquela
que tinha autoridade sobre o próprio Deus, que a obedecia
na intimidade do lar: "... mostrando-se submisso a ela em
tudo" (Lc 2, 51).
- Nas Bodas de Caná transparece de
modo fulgurante o poder da Santíssima Virgem, que é
capaz de "alterar" a hora de Deus, que a adianta pelo pedido
de sua Mãe, fazendo o seu primeiro milagre e confirmando
a fé em seus apóstolos, mudando a água
em vinho (Jo 2, 1- 11).
- É por isso que nos diz o Evangelho,
narrando a grandeza de Maria Santíssima: "Bem-aventurada
as entranhas que te trouxeram e o seio que te amamentou"
(Lc 11, 27).
- Eis o culto de Nossa Senhora fundado no
Evangelho, dele dimanando como de sua "fonte divina", e dali
se irradiando séculos afora. Eis o culto de Maria Santíssima,
não escondido nas trevas, nem envolto no silêncio,
mas divinamente proclamado à face do universo.
- Os séculos ouvirão e compreenderão
estes exemplos e lições evangélicas. E
é para lhes corresponder que os cristãos de todos
os tempos irão prostrar-se aos pés de Maria, implorando-lhe
auxílio e proteção.
- Os Evangelhos, afinal, falam pouco de
Nossa Senhora? Só se déssemos primazia à
quantidade em detrimento das palavras... Maior foi o milagre
da encarnação do que todas as ressurreições
operadas por Nosso Senhor Jesus Cristo. Se não houvesse
a encarnação, não haveria a Redenção.
- É certo que Nossa Senhora, durante
toda a sua vida, procurou ficar no anonimato, escondida dos
homens e amada por Deus.
- Era tanto o esplendor da Santíssima
Virgem que S. Dionísio, o areópagita, declara
que teria considerado Maria como uma divindade, se a fé
não lhe houvera ensinado ser ela a mais perfeita imagem
que de si formara a Onipotência.
- Santo Irineu dizia: "Os laços,
pelos quais Eva se deixou acorrentar, por sua credulidade, Maria
rompeu-os pela sua fé". Referindo-se, é claro,
à passagem do Gênesis: "Ei de por inimizade
entre ti e a mulher, entre sua raça (semente) e a tua;
ela te esmagará a cabeça" (Gen 3, 15). O que
Eva perdeu por orgulho, Nossa Senhora ganhou por humildade.
- São tantos os mistérios
da Maternidade de Maria Santíssima...
- É certo que os Evangelistas evitaram
falar muito de Nossa Senhora, ou por pedido Dela, ou para evitar
um culto equivocado à Mãe de Deus junto a um povo
que era politeísta. Mas o pouco que falam, falam muito!
Ela é verdadeiramente Mãe de um Deus que é
Homem e de um Homem que é Deus. Ela é verdadeiramente
nossa mãe quando, aos pés da cruz, Nosso Senhor
a confiou a S. João. Ela é a onipotência
suplicante que é capaz de mudar a "hora" de Deus. Ela
é verdadeiramente Imaculada, isenta do Pecado Original,
sendo o "tabernáculo" puríssimo que Deus
escolheu para si.
- Os evangelistas em suas liturgias, entretanto, muito falaram
de Nossa Senhora, como veremos nos tópicos seguintes,
que demonstram, inequivocamente, a grandeza do nome da Virgem
de Nazaré, a Mãe de Deus, a Imaculada Conceição,
a Onipotência suplicante, a Medianeira universal de todas
as Graças, assunta ao Céu de corpo e alma, Rainha
dos homens e dos anjos.
-
- -
Os pretensos "irmãos de Jesus"
- Em diversos lugares, o Evangelho fala desses 'irmãos'.
Assim, S. Marcos e S. Lucas referem que 'estando Jesus a
falar, disse-lhe alguém: eis que estão lá
fora tua mãe e teus irmãos que querem ver-te"
(Mt 12, 46-47; Mc 3, 31-32; Lc 8, 19-20). S. João,
por sua vez, fala de tais 'irmãos' (Jo 7, 1-10).
- A bela objeção protestante apenas mostra
uma ignorância da própria Bíblia que dizem
conhecer...
- As línguas hebraica e aramaica não possuem
palavras que traduzam o nosso 'primo' ou 'prima',
e serve-se da palavra 'irmão' ou 'irmã'.
- A palavra hebraica 'ha', e a aramaica 'aha',
são empregadas para designar 'irmãos' ou
'irmãs' dos mesmo pai, não da mesma mãe
(Gn 37, 16; 42, 15; 43, 5; 12, 8-14; 39, 15), sobrinhos, primos
irmãos (1 Par 23, 21), e primos segundos (Lv 10, 4) -
e até 'parentes' em geral (Job 19, 13-14; 42, 11).
- Os trechos acima demonstram, inequivocamente, que a
palavra 'irmão' era uma expressão genérica,
geral.
- Há muitos exemplos na Sagrada Escritura. Lê-se
no Gêneses que 'Taré era pai de Abraão e
de Harão, e que Harão gerou a Lot (Gn 11, 27),
que, por conseguinte, vinha a ser sobrinho de Abraão.
Contudo, no mesmo Gênesis, mais adiante, chama a Lot 'irmão
de Abraão' (Gn 13, 3). 'Disse Abraão a
Lot: nós somos irmãos" (Gn 14, 14)
- Jacó se declara irmão de Labão,
quando, na verdade, era filho de Rebeca, irmã de Labão
(Gn 29, 12-15).
- No Novo Testamento, fica claríssimo que os 'irmãos
de Jesus' não eram filhos de Nossa Senhora.
- Os supostos 'irmãos de Jesus' são
indicados por S. Marcos: "Não é este o carpinteiro,
filho de Maria e irmão de Tiago, e de José, e
de Judas e de Simão e não estão aqui conosco
suas irmãs?"
- Tiago e Judas, conforme afirma S. Lucas, eram filhos
de Alfeu e Cleófas: 'Chamou Tiago, filho de Alfeu...
e Judas, irmão de Tiago" (Lc 6, 15-16). E ainda:
"Chamou Judas, irmão de Tiago" ( Lc 6, 16)
- Quanto a 'José', S. Mateus diz que é
irmão de Tiago: "Entre os quais estava... Maria, mãe
de Tiago e de José" (Mt 27, 56).
- Em S. Mateus se lê: "Estavam ali (no calvário),
a observar de longe...., Maria Mágdala, Maria, mãe
de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu".
Essa Maria, mãe de Tiago e José, não é
a esposa de S. José, mas de Cleofas, conforme S. João
(19, 25). Era também a irmã de Nossa Senhora,
como se lê em S. João (19, 25): "Estavam junto
à Cruz de Jesus sua mãe, a irmã de sua
mãe, Maria (esposa) de Cleofas, e Maria de Mágadala".
- Simão, irmão dos três outros, 'Tiago,
José e Judas' são verdadeiramente irmãos
entre si, filhos do mesmo pai e da mesma mãe. Alfeu (ou
Cleophas) é o pai deles.
- Da mesma forma, se Nossa Senhora tivesse outros filhos,
ela não teria ficado aos cuidados de S. João Evangelista,
que não era da família, mas com seu filho mais
velho, segundo ordenava a Lei de Moisés.
- Eis um dilema sem saída para os protestantes,
pois os 'irmãos de Jesus' são filhos de
Maria Cléofas e Alfeu.
- Também decorre uma pergunta: Por que nunca os
evangelhos chamam os 'irmãos de Jesus' de 'filhos
de Maria' ou de 'José', como fazem em relação
à Nosso Senhor?
- E como, durante toda a vida da Sagrada Família,
os número de seus membros é sempre três?
A fuga para o Egito, a perda e o encontro no templo, etc...
- Desta forma, fica provado o equívoco levantado por
alguns protestantes.
- A
perpétua virgindade da Santíssima Virgem
- Desde o início do cristianismo Nossa Senhora era cultuada
como "Áiepartenon", isto é, a "sempre
Virgem".
- A virgindade eterna de Maria é facilmente demonstrável,
quer seja pela Sagrada Escritura ou pela Tradição,
quer seja pela lógica.
- O que devemos provar: a) Nossa Senhora era Virgem antes
do parto; b) Nossa Senhora permaneceu Virgem durante o parto
e c) Nossa Senhora permaneceu virgem após o parto.
- Três asserções que vou provar aqui
com a Bíblia na mão, e um pouco de lógica
na cabeça. Aliás, a terceira já está
provada pela própria explicação dos irmãos
de Jesus. Todavia, vamos aprofundar mais um pouco a análise.
- Nossa Senhora
era Virgem antes do parto
- A primeira asserção é admitida
pelos próprios protestantes, pois se encontra positivamente
no Evangelho: "O Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma
virgem desposada... e o nome da Virgem era Maria". (Luc.
I, 26).
- Mais positivo ainda é o testemunho da própria
Virgem objetando ao anjo: "Como se fará isso, pois
eu não conheço varão?". Nenhuma dúvida
subsiste - Maria Santíssima era Virgem.
- Nossa Senhora
permaneceu Virgem durante o parto
- A segunda asserção, mostrando que a Mãe
de Jesus ficou virgem no parto, pode deduzir-se dos mesmos textos.
O que é concebido por milagre deve nascer por milagre;
o nascimento é a conseqüência da concepção;
sem esta conseqüência, o milagre seria incompleto.
Em outras palavras, Deus teria operado um milagre incompleto
ao desejar manter a virgindade de Nossa Senhora e não
tendo levado essa promessa até o final. "Como se fará
isso, pois eu não conheço varão?" "O
Santo, que há de nascer de ti, será chamado Filho
de Deus, porque a Deus nada é impossível"
(Luc 1, 35). A Deus nada é impossível, a virgindade
de Nossa Senhora seria preservada, mesmo ela "não
conhecendo varão".
- Continuamos na argumentação. O Evangelho
nos mostra que Maria, tendo chegado ao termo ordinário
da natureza, "deu à luz o seu filho. E estando ali,
aconteceu completarem-se os dias em que devia dar à luz"
(Luc. 1, 6).
- Ora, "conceber" e "dar à luz"
são dois termos de uma ação única.
A mãe concebe, para dar à luz - é uma só
ação: gerar filhos. O parto e a conceição
são inseparavelmente ligados, sendo o primeiro o preço
doloroso da segunda (perder a virgindade); sendo Maria Santíssima
libertada da segunda parte, por meio do milagre de Deus, deve
sê-lo da primeira, pois para Deus não é
mais custoso fazer "nascer" virginalmente do que fazer
"conceber" virginalmente.
- Ademais, se a ação virginal havia começado,
pela ação do Espírito Santo, Deus completaria
essa ação no momento em que esta chegasse ao seu
final. É uma conseqüência lógica e
necessária, sob pena de negar o milagre completo de Deus
manifestado em sua vontade e na resolução de Nossa
Senhora de manter a virgindade.
- A própria dúvida de Nossa Senhora em
relação à concepção deixa
claro a posição dela perante a virgindade: "Como
se fará isso, pois eu não conheço varão?".
O Anjo resolve o problema: "O Santo, que há de nascer
de ti, será chamado Filho de Deus, porque a Deus nada
é impossível" (Luc. 1, 35).
- A conceição da Virgem Santíssima
é, pois, obra do Espírito Santo: "O Espírito
Santo descerá sobre ti e a virtude do Altíssimo
te cobrirá com sua sombra. E por isso mesmo o santo que
há de nascer de ti será chamado Filho de Deus."
(Luc. 1, 35).
- "Conceber" Jesus e "dá-lo à
luz" são, textual e literalmente, um só milagre,
o milagre da encarnação. Separar estes dois termos,
que o Evangelista resumiu de propósito numa única
frase, é adulterar de maneira visível o texto
e a significação da palavra de Deus.
- Sendo Nossa Senhora virgem antes do parto, deve sê-lo
também durante o parto, pois o milagre da encarnação
é uno e completo. E isto é muito conforme à
profecia: "uma virgem conceberá e dará à
luz". É o próprio Evangelho que faz a aplicação
desta profecia: "Ora, tudo aconteceu para que se cumprisse
o que foi dito pelo Senhor, por meio do profeta" (Mat. 1,
22). Ou seja, conceber e dar à luz, virginalmente!
- A Virgindade de Nossa Senhora antes e durante o parto
é uma verdade que não se pode negar, senão
espezinhando-se todas as regras da lógica e da hermenêutica.
Deus quis manter a virgindade de Nossa Senhora antes e durante
o parto, não o precisava, mas assim o fez.
- Nossa Senhora
permaneceu virgem após o parto
- Sobre a virgindade de Nossa Senhora após o parto,
já provamos anteriormente. Todavia, para dar mais realce
à explicação, façamos um pequeno
exercício de hermenêutica.
- Quando Nossa Senhora afirma, categoricamente, "eu
não conheço varão", ela não
está dizendo que "até o momento eu não
conheço", mas que ela, por opção pessoal,
não "conhece varão", o que dá uma
extensão geral à sua afirmação.
- Segundo a tradição, Nossa Senhora havia
feito um voto de castidade perpétua e assim o manteve,
mesmo vivendo com S. José, como fica clara pela própria
afirmação dela ("Eu não conheço
varão"), quando já estava desposada de S.
José.
- Se não fosse propósito de Nossa Senhora
manter a castidade perpétua, sua afirmação
não teria propósito, pois o Anjo poderia lhe responder:
"se ainda não conhece, conhecê-lo-á logo;
não é José teu esposo? ". A sua afirmação
só faz sentido, dentro do contexto, tendo Nossa Senhora
feito o voto de castidade perpétua.
- S. Marcos, na mesma linha, chama Jesus "O filho
de Maria" - "uiós Marias" - (Marc. 6, 3),
e não um dos filhos de Maria, como querendo mostrar que
ele era o seu filho único.
- Tudo isso ficará mais claro quando tratarmos
da Imaculada Conceição segundo
a Tradição, onde os evangelistas descrevem
a virgindade perpétua de Maria Santíssima.
- Desfazendo objeções protestante: "antes
de coabitarem", "filho primogênito" e "não
a conhecia até que ela desse à luz"
- a) "antes de
coabitarem"
- S. Mateus: "Maria, sua Mãe, estava desposada
com José. Antes de coabitarem, ela concebeu por virtude
do Espírito Santo" (Mt 1, 18). Ora, "antes de
coabitarem" significa apenas "antes de morarem juntos
na mesma casa". Isso aconteceu quando "José
fez como o anjo do Senhor lhe havia mandado e recebeu em sua
casa sua esposa (Maria)"(Mt 1, 24)
- b) "filho
primogênito"
- S. Lucas: "Maria deu à luz o seu filho primogênito"
(Lc 2, 7). Explicação: É errado concluir
que devia seguir o segundo filho. A lei de mosaica exige que
todo o primogênito seja consagrado a Deus, quer seja filho
único ou não: "Consagrar-me-ás todo
o primogênito (primeiro gerando) entre os israelitas,
tanto homem como animal: ele é meu" (Ex 13, 2). Um
exemplo elucidativo encontrado no Egito, retirado de uma inscrição
judaica: "Arisoné entre as dores do parto morreu ao
dar à luz seu filho primogênito". Ou no Êxodo,
quando Deus disse: "Todo o primogênito na terra do
Egito morrerá" (Ex 11, 5). E assim aconteceu. "Não
havia casa em que não houvesse um morto" (Ex 11,
30). Necessariamente, havia, como em todos os países,
casais de um só filho; por exemplo, todos os que se tinham
casado nos últimos anos...
- Depois, em outro trecho, Deus ordena: "contar todos
os primogênitos masculinos dos filhos de Israel, da idade
de um mês para cima" (Num 3, 40). Ora, se há
primogênito de um mês de idade, como é que
se pode exigir que, para haver primeiro, haja um segundo?
- Logo, há primogênito sem que haja, necessariamente,
um segundo filho.
- A primogenitura era um título de dignidade e
de honra entre os Judeus. Geralmente, o filho, primeiro, tinha
direito a certos privilégios, como os de herdeiro etc,
ficando sujeito a certas obrigações, como vemos
na Bíblia. (Lc 2, 23)
- É, portanto, de propósito e com razão
que o Evangelista chama Jesus: "primogênito" -
"ton protótokon". Designa-o, deste modo, como
herdeiro de David, como tendo um direito privilegiado sobre
esta herança (cf Gen 10, 15 - 21, 12).
- E é isso que se pode verificar na apresentação
de Jesus no templo: "Depois que foram concluídos os
dias da purificação de Maria, segundo a lei de
Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentarem
ao Senhor: Todo o varão primogênito será
consagrado ao Senhor" (Lc 2, 22)
- Essa passagem é muito clara e resolve de uma
vez a discussão sobre a "primogenitura" de Nosso
Senhor, pois a apresentação no templo ocorreu
apenas 40 dias após o seu nascimento, como filho único
de Nossa Senhora.
- c) "não
a conhecia até que ela desse à luz"
- Em algumas traduções, aparece em S. Mateus:
"José não conheceu Maria (= não teve
relações com ela) até que ela desse à
luz um filho (Jesus)". (Mt 1, 25). Explicação:
Seria errado insinuar que depois daquele "até"
José devia "conhecer" Maria". "Até",
na linguagem bíblica, refere-se apenas ao passado. Exemplo:
"Micol, filha de Saul, não teve filhos até
ao dia de sua morte" (II Sam 6, 23). Ou então, falando
Deus a Jacob do alto da escada que este vira em sonhos, disse-lhe:
"Não te abandonarei, enquanto não se cumprir
tudo o que disse" (Gen 28, 15). Quererá isso dizer
que Deus o abandonaria depois? Em outra passagem, Nosso Senhor
diz aos seus Apóstolos: "Eis que eu estou convosco
todos os dias, até a consumação dos séculos"
(Mt 28, 20).
- Ora, o texto sagrado deixa claro que a palavra "até"
é um reforço do milagre operado, a saber, a encarnação
do verbo por obra do Espírito Santo, e não por
obra de um homem (S. José).
-
- A Imaculada
Conceição
- Reza o dogma católico que a Bem-aventurada Virgem
Maria, desde o primeiro instante de sua conceição,
foi preservada da nódoa do pecado original, por privilégio
único de Deus e aplicação dos merecimentos
de seu divino Filho.
- O dogma abrange dois pontos importantes:
- a) O primeiro é ter sido a Santíssima
Virgem preservada da mancha original desde o princípio
de sua conceição. Deus abrogou para ela a lei
de propagação do pecado original na raça
de Adão; ou por outra, Maria foi cumulada, ainda no começo
da vida, com os dons da graça santificante.
- b) No segundo, vê-se que tal privilégio
não era devido por direito. Foi concedido na previsão
dos merecimentos de Jesus Cristo. O que valeu a Maria este favor
peculiar foram os benefícios da Redenção,
na previsão dos méritos de Jesus Cristo, que já
existiam nos eternos desígnios de Deus.
- Como se dá
a transmissão do Pecado Original
- Primeiramente, é necessário exclarecer
em que consiste a transmissão do "Pecado Original".
A lei geral: "Todos os homens pecaram num só"
é o grande argumento dos protestantes contra a "Imaculada
Conceição". Tal lei é certa e, segundo
vamos demonstrar, não encontra a mínima contradição
com o dogma católico.
- S. Francisco de Sales, no seu "Tratado do amor de
Deus", exprime essa verdade de um modo singelo e glorioso!
"A torrente da iniquidade original veio lançar as
suas ondas impuras sobre a conceição da Virgem
Sagrada, com a mesma impetuosidade que sobre a dos demais filhos
de Adão; mas chegando ali, as vagas do pecado não
passaram além, mas se detiveram, como outrora o Jordão
no tempo de Josué, aqui respeitando a arca da aliança
a torrente parou; lá em atenção ao Tabernáculo
da verdadeira aliança, que é a Virgem Maria, o
pecado original se deteve."
- Os protestantes deveriam compreender a diferença
essencial que há entre "pecar em Adão"
e "pecar pessoalmente", como são coisas bem distintas
pertencer a uma raça pecadora e ser pecador.
- De que modo, afinal, contraímos nós o
pecado original?
- Tal transmissão não se pode fazer pela
"criação" da alma; afirmar isso seria dizer
que Deus é o autor do pecado, o que é impossível
e repugna. Não se transmite tão pouco pelos pais,
pois a alma dos filhos não se origina das almas dos pais,
mas é criada por Deus. A transmissão se efetua
pela "geração".
- A alma é criada por Deus no estado de inocência
perfeita, mas contrai a "mácula", unindo-se a um corpo
formado de um gérmem corrompido, do mesmo modo que ela
sofreria, se fosse unida a um corpo ferido. É a opinião
de Santo Tomás.
- Santo Agostinho diz a propósito: "Apesar
de nascerem de pais batizados, os filhos vêm à
luz com o pecado original, como do trigo inutilizado germina
uma espiga, em que o grão é misturado com a palha."
- Nesse mistério do nascimento de uma criança,
pelo exposto, opera-se uma dupla conceição: a
da alma e a do corpo. Foi nesse momento quase imperceptível
que Deus preservou do pecado original a "pessoa" de Maria
Santíssima. Criou sua alma, como criou as nossas. Os
progenitores de Nossa Senhora formaram-lhe o corpo, como nossos
pais formaram o nosso. Até aqui tudo é natural;
o milagre da preservação limita-se ao instante
em que o Criador uniu a alma ao corpo.
- Desta união devia resultar a "transmissão
do pecado". Deus fez parar o curso desta transmissão,
de modo que nela a união se operou, como se tinha realizado
na pessoa de Adão, quando Deus, depois de ter feito o
corpo do primeiro homem, soprou nele o espírito, constituindo-o
na perfeição da inocência e justiça
original.
- Maria é uma segunda Eva... mas Eva antes de
sua queda! Tal é a sublime doutrina da Igreja de Cristo.
- A Exceção
à Lei Geral
- Seria possível objetar-se que Deus não
tem poder para derrogar as leis gerais por Ele mesmo estabelecidas?
- Seria negar a onipotência divina e fixar limites
Àquele que não os tem.
- É uma lei geral que "todos pecaram num só".
Tal fato é universal, e todas as criaturas a ele estão
subordinadas. Todavia, nada impede que, antes de efetuar-se
a união da alma com o corpo, Deus possa intervir e suspender
"um dos seus efeitos", o qual é, precisamente, a transmissão
desse "pecado original".
- A Sagrada Escritura está repleta dessas derrogações
de leis gerais. O movimento do sol e da lua está matematicamente
fixado pela lei da natureza; entretanto, Josué não
hesitou em fazê-lo parar: "Sol detem-te em Gibeon,
e tu, lua, no vale de Hadjalon. E o sol deteve-se e a lua parou"
(Jos. 10, 12-13).
- É uma lei que as águas sigam a correnteza
do seu curso. Entretanto, "Moisés extendeu a mão..."
o mar deixou livre o seu leito, partiram-se as águas,
com um muro à sua esquerda e à sua direita (Exod.
14, 21 e 22).
- É uma lei que o um morto fique morto até
à ressureição geral; entretanto, o próprio
Cristo-Deus, diante do cadáver de Lázaro, já
em putrefação, exclamou: "Lázaro, sai!"
(Jo 11, 43 e 41). E imediatamente aquele que estava morto saiu
vivo.
- Que prova isso, demonstra que "para Deus nada é
impossível" (Lc 18, 27).
- Será, então, que os protestantes acham
impossível que Deus preserve Maria Santíssima
do Pecado Original?
- Se a lei geral fosse superior ao poder de Deus, como
ficaria o Homem-Deus? Ele, em sua natureza humana, foi preservado
do pecado original, mesmo nascendo de uma mulher. Se fosse impossível
a Deus manter Imaculada a sua Mãe, também seria
impossível manter "imaculado" o Seu Filho único,
que nasceu verdadeiro Homem e verdadeiro Deus.
- Provas
na Sagrada Escritura:
- Depois da queda do pecado original, Deus falou ao demônio,
oculto sob a forma de serpente: "Ei de por inimizade entre
ti e a mulher, entre sua raça (semente) e a tua; ela
te esmagará a cabeça" (Gen 3, 15). Basta um
pouco de boa-vontade para compreender de que "mulher"
o texto fala. A única mulher "cheia de graça",
"bendita entre todas", na qual a "semente" ou
(raça) foi Nosso Senhor Jesus Cristo (e os cristãos),
é a Santíssima Virgem, a nova Eva, mãe
do Novo Adão. Conforme esse texto, há uma luta
entre dois antagonistas: de um lado, está uma mulher
com o filho; do outro, o demônio. Quem há de ganhar
a vitória são aqueles e não estes. Ora,
se Nossa Senhora não fosse imaculada, essa inimizade
não seria inteira e a vitória não seria
total, pois Maria Santíssima teria sido, pelo menos em
parte, sujeita ao poder do demônio através do Pecado
Original. Em outras palavras, a inimizade entre a mulher (e
sua posteridade) e a serpente, implica, necessariamente, que
Nosso Senhor e Nossa Senhora não poderiam ter sido manchados
pelo pecado original.
- Na saudação angélica, quando S.
Gabriel diz: "Ave, cheia de graça. O Senhor é
convosco". Ora, não se exprimiria desta maneira o
anjo e nem haveria plenitude de graça, se Nossa Senhora
tivesse o pecado original, visto o homem ter perdido a graça
após o pecado.
- A maneira da saudação angélica
transparece a grandeza de Nossa Senhora, pois o Anjo a saúda
com a "Ave, Cheia de Graça". Ele troca o nome
"Maria" pela qualidade "Cheia de Graça",
como Deus desejou chamá-la.
- Ao mesmo tempo, a afirmação "o Senhor
é convosco" abrange uma verdade luminosa. Se Nosso
Senhor é (está) com Nossa Senhora antes da encarnação
("é convosco"). Sendo palavras anteriores à
encarnação do verbo no seio da Virgem Maria, forçoso
é reconhecer que onde está Deus não está
o pecado. Ou seja, Nossa Senhora não tinha o "pecado
original".
- Prossegue o arcanjo: Não temas, Maria, pois
"achaste graça diante de Deus". Aqui termina a
revelação da Imaculada Conceição
para começar a da maternidade divina: "Eis que conceberás
no teu ventre e darás à luz um filho, e por-lhe-ás
o nome de Jesus". (Lc 1, 28).
- Pela simples leitura percebe-se a conexão estreita
entre duas verdades: "Maria será a mãe de Jesus,
porque achou graça diante de Deus".
- Mas, que graça Nossa Senhora achou diante de
Deus para poder ser escolhida como a Mãe Dele? Ora, a
única graça que não existia - ou que estava
"perdida" - era a "graça original". Falar,
pois, que: "Maria achou graça" é dizer
que achou a "graça original". Ora, a "graça
original" é a "Imaculada Conceição"!
- Os evangelhos sinóticos deixam claro que a palavra
"Cheia de Graça", em grego: "Kecharitoménê",
particípio passado de "charitóô",
de "Cháris", é empregado na Sagrada Esciruta
para designar a graça em seu sentido pleno, e não
no sentido corrente. A tradução literal seria:
"omnino Plena Caelesti gratia" ou "Ominino gratiosa
reddita": "Cheia de graça".
- Ou seja, a tradução do latim: "gratia
plena" é mais perfeita do que a palavra portuguesa:
"cheia de graça". Nossa Senhora não apenas
"encontrou graça", mas estava "plena" de
Graça. Corroborando o que disse o Arcanjo logo em seguida:
"O Senhor é contigo".
- Falando à Santíssima Virgem que Ela "achara
graça", o Arcanjo diz: Maria, sois imaculada, e,
por isto, sereis a Mãe de Jesus Cristo.
- Também é pela própria razão
que se pode concluir a Imaculada Conceição. É
claro que o argumento racional não é definitivo,
mas corroborou com muita conveniência - e completa harmonia
- para com ele. Se Maria Santíssima fosse manchada do
pecado original, essa mancha redundaria em menor glória
para seu filho, que ficou nove meses no ventre de uma mulher
que teria sido concebida na vergonha daquele pecado. Se qualquer
mácula houvesse na formação de Maria Santíssima,
teria havido igualmente na formação de Jesus,
pois o filho é formado do sangue materno.
- S. Paulo assim se expressa sobre o ventre de onde nasceu
o menino-Deus: "Cristo, porém, apareceu como um pontífice
dos bens futuros. Entrou no tabernáculo mais excelente
e perfeito, não construído por mãos humanas,
nem mesmo deste mundo" (Hebr 9, 12).
- Que tabernáculo é esse, "não
construído por mãos humanas", por onde "entrou"
Nosso Senhor Jesus Cristo? Fica claro o milagre operado em Nossa
Senhora na previsão dos méritos de seu divino
Filho. Negar que Deus pudesse realizar tal milagre (Imaculada
Conceição) seria duvidar de sua onipotência.
Negar que Ele desejaria fazer tal milagre seria menosprezar
seu amor filial, pois, como afirma S. Paulo: Deus construiu
o seu "tabernáculo" que não foi "construído
por mãos humanas".
- Ora, este tabernáculo, feito imediatamente por
Deus e para Deus, devia revestir-se de toda a beleza e pureza
que o próprio Deus teria podido outorgar a uma criatura.
- E esta pureza perfeita e ideal se denomina: a Imaculada
Conceição.
- Agora examinemos
a Tradição, desde os primeiros séculos:
- S. Tiago Menor, o qual realizou o esquema da liturgia
da Santa Missa, prescreve a seguinte leitura, após ler
uns passos do antigo e do novo testamento, e de umas orações:
"Fazemos memória de nossa Santíssima, Imaculada,
e gloriosíssima Senhora Maria, Mãe de Deus e sempre
Virgem".
- O santo Apóstolo não se limita a isso,
mas torna a sua fé mais expressiva ainda. Após
a consagração e umas preces, ele faz dizer ao
Celebrante: "Prestemos homenagem, principalmente, a Nossa
Senhora, a Santíssima, Imaculada, abençoada acima
de todas as criaturas, a gloriosíssima Mãe de
Deus, sempre Virgem Maria. E os cantores respondem: É
verdadeiramente digno que nós vos proclamemos bem-aventurada
e em toda linha irrepreensível, Mãe de Nosso Deus,
mais digna que os querubins, mais digna de glória que
os serafins; a vós que destes à luz o Verbo divino,
sem perder a vossa integridade perfeita, nós glorificamos
como Mãe de Deus" (S. jacob in Liturgia sua).
- O evangelista S. Marcos, na Liturigia que deixou às
igrejas do Egito, serve-se de expressões semelhantes:
"Lembremo-nos, sobretudo, da Santíssima, intemerata
e bendita Senhora Nossa, a Mãe de Deus e sempre Virgem
Maria".
- Na Liturgia dos etíopes, de autor desconhecido,
mas cuja composição data do primeiro século,
encontramos diversas menções explícitas
da Imaculada Conceição. Umas das suas orações
começa nestes termos: Alegrai-vos, Rainha, verdadeiramente
Imaculada, alegrai-vos, glória de nossos pais. Mais adiante,
é pela intercessão da Imaculada Virgem Maria que
o Sacerdote invoca a Deus em favor dos fiéis: "Pelas
preces e a intercessão que faz em nosso favor Nossa Senhora,
a Santa e Imaculada Virgem Maria.".
- Terminamos o primeiro século com as palavras
de Santo André, apóstolo, expondo a doutrina cristã
ao procônsul Egeu, passagem que figura nas atas do martírio
do mesmo santo, e data do primeiro século: "Tendo
sido o primeiro homem formado de uma terra imaculada, era necessário
que o homem perfeito nascesse de uma Virgem igualmente imaculada,
para que o Filho de Deus, que antes formara o homem, reparasse
a vida eterna que os homens tinham perdido" (Cartas dos
Padres de Acaia).
- A doutrina da Imaculada Conceição era,
pois, conhecida no primeiro século e por todos admitida.
A esse respeito, nenhuma contradição se levantou
na primitiva Igreja.
- No século segundo, os escritos dos Santos Padres
falam da Imaculada Conceição como um fato indiscutível.
Entre os escritores e oradores deste século, contamos:
S. Jusitino, apologista e mártir; Tertuliano e Santo
Irineu.
- No terceiro século, existem também textos
claros em defesa da Imaculada Conceição. mas em
menor quantidade.
- Santo Hipólito, bispo de Porto e mártir,
escreveu em 220: "O Cristo foi concebido e tomou o seu crescimento
de Maria, a Mãe de Deus toda pura". Mais além
ele diz: "Como o Salvador do mundo tinha decretado salvar
o gênero humano, nasceu da Imaculada Virgem Maria".
- Orígenes, que viveu em 226 e pareceu resumir
a doutrina e as tradições de sua época,
escreveu: "Maria, a Virgem-Mãe do Filho único
de Deus, é proclamada a digna Mãe deste digno
Filho, a Mãe Imaculada do Santo e Imaculado, sendo ela
única, como único é o seu próprio
Filho."
- Em um dos seus sermões sobre S. José,
Origenes faz o mensageiro celeste dizer ao santo: "Este menino
não precisa de Pai na terra, porque tem um pai incorruptível
no céu; não precisa de Mãe no Céu,
porque tem uma Mãe Imaculada e casta na terra, a Virgem
Bem-aventurada, Maria".
- No século quarto, aparecem inúmeros escritos
sobre a Imaculada Conceição, cada vez mais explícitos
e em maior número. Temos diante de nós as figuras
incomparáveis de Santo Atanásio, de Santo Efrem,
de S. Basílio Magno, de Santo Epifânio, e muitos
outros, que constituem a plêiade gloriosa dos grandes
Apóstolos do culto da Virgem Santíssima e, de
modo particular, de sua Imaculada Conceição.
- Um trecho de Lutero, para mostrar que nem ele se atreveu
a contestar a Imaculada Conceição: "Era justo
e conveniente, diz ele, fosse a pessoa de Maria preservada do
pecado original, visto o filho de Deus tomar dela a carne que
devia vencer todo pecado". (Lut. in postil. maj.).
- Para terminar,
transcreveremos um pequeno soneto.
- Em 1823, dois sacerdotes dominicanos, Pes. Bassiti
e Pignataro, estavam exorcizando um menino possesso, de 12 anos
de idade, analfabeto. Para humilhar o demônio, obrigaram-no,
em nome de Deus, a demonstrar a veracidade da Imaculada Conceição
de Maria. Para surpresa dos sacerdotes, pela boca do menino
possesso, o demônio compôs o seguinte soneto:
- "Sou verdadeira mãe de um Deus que é
filho,
- E sou sua filha, ainda ao ser-lhe mãe;
- Ele de eterno existe e é meu filho,
- E eu nasci no tempo e sou sua mãe.
-
- Ele é meu Criador e é meu filho,
- E eu sou sua criatura e sua mãe;
- Foi divinal prodígio ser meu filho
- Um Deus eterno e ter a mim por mãe.
-
- O ser da mãe é quase o ser do filho,
- Visto que o filho deu o ser à mãe
- E foi a mãe que deu o ser ao filho;
-
- Se, pois, do filho teve o ser a mãe,
- Ou há de se dizer manchado o filho
- Ou se dirá Imaculada a mãe.
-
- Conta-se que o Papa Pio IX chorou, ao ler esse soneto
que contém um profundíssimo argumento de razão
em favor da Imaculada.
- Nossa Senhora foi a restauradora da ordem perdida por
meio de Eva. Eva nos trouxe a morte, Maria nos dá a vida.
O que Eva perdeu por orgulho, Nossa Senhora ganhou por humildade.
- O Dogma da Imaculada Conceição foi proclamado
pelo Papa Pio IX, cercado de 53 cardeais, de 43 arcebispos,
de 100 bispos e mais de 50.000 romeiros vindos de todas as partes
do mundo, no dia 8 de dezembro de 1854.
- Passados apenas 3 anos dessa solene proclamação,
em 11 de agosto de 1858, Nossa Senhora dignou-se aparecer milagrosamente
quinze dias seguidos, perto da pequena cidade de Lourdes, ne
França, a uma pobre menina, de 13 anos de idade, chamada
Bernadete.
- No dia 25 de março, Bernadete suplicou que Nossa
Senhora lhe revelasse seu nome. Após três pedidos
seguidos, Nossa Senhora lhe respondeu: "Eu sou a Imaculada
Conceição".
- Eis a chave de ouro que encerra a tradição
ininterrupta dos Apóstolos.
-
- Nossa
Senhora, Mãe de Deus
- Resumidamente, podemos dizer que Nossa Senhora é
Mãe de Deus e não da divindade. Ou seja, Ela é
Mãe de Deus por ser Mãe de Nosso Senhor, pois
as duas naturezas (a divina e a humana) estão unidas
em Nosso Senhor Jesus Cristo.
- A heresia de negar a maternidade divina de Nossa Senhora
é muito anterior aos protestantes. Ela nasceu com Nestório,
então bispo de Constantinopla. Os protestantes retomaram
a heresia que havia sido sepúltada pela Igreja de Cristo.
- Mas, afinal, por que Nossa Senhora é Mãe
de Deus?
- Vamos provar pela razão, pela Sagrada Escritura
e pela Tradição que Nossa Senhora é Mãe
de Deus.
- A pessoa
de Nosso Senhor Jesus Cristo
- Se perguntarmos a alguém se ele é filho
de sua mãe, se esta verdadeiramente for a mãe
dele, de certo nos lançará um olhar de espanto.
E teria razão.
- O homem, como sabemos, é composto de corpo e
alma, sendo esta a parte principal do seu ser, pois comunica
ao corpo a vida e o movimento.
- A nossa mãe terrena, todavia, não nos
comunica a alma, mas apenas o nosso corpo. A alma é criada
diretamente por Deus. A mãe gera apenas a parte material
deste composto, que é o seu ser. E como é que
alguém pode, então, afirmar que a pessoa que nos
dá à luz é nossa mãe?
- Se fizéssemos essa pergunta a um protestante
sincero e instruído, ele mesmo responderia com tranqüilidade:
"é certo, a minha mãe gera apenas o meu corpo
e não a minha alma, mas a união da alma e do corpo
forma este todo que é a mimha pessoa; e a minha mãe
é mãe de minha pessoa. Sendo ela mãe de
minha pessoa, composta de corpo e alma, é realmente a
minha mãe."
- Apliquemos, agora, estas noções de bom
senso ao caso da Maternidade divina de Maria Santíssima.
- Há em Jesus Cristo "duas naturezas":
a natureza divina e a natureza humana. Reunidadas, constituem
elas uma única pessoa, a pessoa de Jesus Cristo.
- Nossa Senhora é Mãe deste única
pessoa que possue ao mesmo tempo a natureza divina e a natureza
humana, como a nossa mãe é a mãe de nossa
pessoa. Ela deu a Jesus Cristo a natureza humana; não
lhe deu, porém, a natureza divina, que vem unicamente
do Padre Eterno.
- Maria deu, pois, à Pessoa de Jesus Cristo a
parte inferior - a natureza humana, como a nossa mãe
nos deu a parte inferior de nossa pessoa, o corpo.
- Apesar disso, nossa mãe é, certamente,
a mãe da nossa pessoa, e Maria é a Mãe
da pessoa de Jesus Cristo.
- Notemos que em Jesus Cristo há uma só
pessoa, a pessoa divina, infinita, eterna, a pessoa do Verbo,
do Filho de Deus, em tudo igual ao Padre Eterno e ao Espírito
Santo. E Maria Santíssima é a Mãe desta
pessoa divina. Logo, ela é a Mãe de Jesus, a Mãe
do Verbo Eterno, a Mãe do Filho de Deus, a Mãe
da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, a Mãe
de Deus, pois tudo é a mesma e única pessoa, nascida
do seu seio virginal.
- A alma de Jesus Cristo, criada por Deus, é realmente
a alma da pessoa do Filho de Deus. A humanidade de Jesus Cristo,
composta de corpo e alma, é realmente a humanidade do
Filho de Deus. E a Virgem Maria é verdadeiramente a Mãe
deste Deus, revestido desta humanidade; é a Mãe
de Deus feito homem.
- Ela é a Mãe de Deus - "Maria de qua
natus est Jesus": "Maria de quem nasceu Jesus" (Mt
1, 16).
- Note-se que Ela não é a Mãe da
divindade, como nossa mãe não é mãe
de nossa alma; mas é a Mãe da pessoa de Jesus
Cristo, como a nossa mãe é mãe de nossa
pessoa.
- A pessoa de Nosso Senhor é divina, é
a pessoa do Filho de Deus. Logo, por uma lógica irretorquível,
Ela é a Mãe de Deus.
- A conseqüência
da negação da maternidade divina é a negação
da Redenção
- Agora, qual é o fundo do problema dessa heresia?
Analisemos alguns pormenores e algumas conseqüências
de se negar a maternidade divina de Nossa Senhora.
- Não foram os protestantes os primeiros a rejeitar
o título de "Mãe de Deus" à Nossa
Senhora.
- Foi Nestório, o indigno sucessor de S. João
Crisóstomo, na sede de Constantinopla, o inventor da
absurda negação.
- A sutilidade grega havia suscitado vários erros
a respeito da pessoa de Jesus Cristo!
- Sabélio pretendeu aniquilar a personalidade
do Verbo. Ario procurou arrebatar a esta personalidade a áureola
divinal; negaram os docetas a realidade do corpo de Jesus Cristo
e os Apolinaristas, a alma humana de Cristo.
- Tudo fora atacado pela heresia, na pessoa de Nosso
Senhor; mas a cada heresia que surgia a Igreja infalível,
sob a direção do Papa de Roma, saia em defesa
da única e imperecível verdade: da pessoa do Verbo
divino contra Sabélio; da divindade desta pessoa, contra
Ário; da realidade do corpo humano de Jesus, contra os
Apolinaristas.
- Bastava apenas um ponto central para suportar o ataque
da parte dos hereges: era a união das duas naturezas,
divina e humana, em Jesus Cristo.
- Caberia a Nestório levantar esta heresia, e
aos filhos de Lutero continuarem a defender este erro grotesco.
- Foi em 428 que o indigno Patriarca Nestório
começou a pregar que havia em Jesus Cristo duas pessoas:
uma divina, como filho de Deus; outra humana, como filho de
Maria.
- Por isso conclue o heresiarca, Maria não pode
ser chamada Mãe de Deus, mas simplesmente Mãe
de Cristo ou do homem.
- Concebe-se o alcance de uma tal negação.
Se as duas naturezas, a divina e a humana, não são
hipostaticamente unidas em Nosso Senhor Jesus Cristo, de modo
a formar uma única pessoa, desaparece a Encarnação
e a Redenção, porquanto o Filho de Deus, não
se tendo revestido de nossa natureza, não pode ser o
nosso Redentor. Somente o homem Jesus sofreu. Ora, o homem,
como ser finito, só pode fazer obras finitas. Logo, a
Redenção não é mais de um valor
infinito; Jesus Cristo não pode mais ser adorado, pois
é apenas um homem; o Salvador não é mais
o Homem-Deus. Tal é o erro grotesco que Nestório,
predecessor de Lutero, não temeu lançar ao mundo.
- Ora, os protestantes não querem levar às
últimas conseqüências a negação
da maternidade divina de Nossa Senhora. Adimitem em Jesus Cristo
duas naturezas e uma pessoa, mas lhes repugna a união
pessoal (hipostática) das duas naturezas na única
pessoa de Jesus Cristo.
- Basta um pequeno raciocínio para reconhecer
como necessária a maternidade Divina da Santíssima
Virgem: Nosso Senhor morreu como homem na Cruz (pois Deus não
morre), mas nos redimiu como Deus, pelos seus méritos
infinitos. Ora, a natureza humana de Nosso Senhor e a natureza
divina não podem ser separadas, pois a Redenção
não existiria se Nosso Senhor tivesse morrido apenas
como homem. Logo, Nossa Senhora, Mãe de Nosso Senhor,
mesmo não sendo mãe da divindade, é Mãe
de Deus, pois Nosso Senhor é Deus. Se negarmos a maternidade
de Nossa Senhora, negaremos a redenção do gênero
humano ou cairíamos no absurdo de dizer que Deus é
mortal!
- Os protestantes, admitindo que Jesus Cristo nasceu
de Maria - e não podem negá-lo, pois está
no Evangelho (Mt 1, 16) -, devem admitir: que a pessoa deste
Jesus é divina; que Nossa Senhora é a Mãe
desta pessoa; que ela é, portanto, Mãe de Deus!
É um dilema sem saída do ponto de vista racional.
- O Concílio
de Éfeso:
- Quando o heresiarca Ario divulgou o seu erro, negando
a divindade da pessoa de Jesus Cristo, a Providência Divina
fez aparecer o intrépido Santo Atanásio para confundí-lo,
assim como fez surgir Santo Agostinho a suplantar o herege Pelágio,
e S. Cirilo de Alexandria para refutar os erros de Nestório,
que haviam semeado a pertubação e a indignação
no Oriente.
- Em 430, o Papa São Celestino I, num concílio
de Roma, examinou a doutrina de Nestório que lhe fora
apresentada por S. Cirílo e condenou-a como errônea,
anti-católica, herética.
- S. Cirilo formulou a condenação em doze
proposições, chamadas os doze anátemas,
em que resumia toda a doutrina católica a este respeito.
- Pode-se resumí-las em três pontos:
- 1) Em Jesus Cristo, o Filho do homem não
é pessoalmente distinto do Filho de Deus;
- 2) A Virgem Santíssima é verdadeiramente
a Mãe de Deus, por ser a Mãe de Jesus Cristo,
que é Deus;
- 3) Em virtude da união hipostática,
há comunicações de idiomas, isto é:
denominações, propriedades e ações
das duas naturezas em Jesus Cristo, que podem ser atribuidas
à sua pessoa, de modo que se pode dizer: Deus morreu
por nós, Deus salvou o mundo, Deus ressuscitou.
- Para exterminar completamente o erro, e restringir
a unidade de doutrina ao mundo, o Papa resolveu reunir o concílio
de Éfeso (na Ásia Menor), em 431, convidando todos
os bispos do mundo.
- Perto de 200 bispos, vindos de todas as partes do orbe,
reuniram-se em Éfeso. S. Cirilo presidiu a assembléia
em nome do Papa. Nestório recusou comparecer perante
os bispos reunidos.
- Desde a primeira sessão a heresia foi condenada.
Sobre um trono, no centro da assembléia, os bispos colocaram
o santo Evangelho, para representar a assistência de Jesus
Cristo, que prometera estar com a sua Igreja até a consumação
dos séculos, espetáculo santo e imponente que
desde então foi adotado em todos os concílios.
- Os bispos cercando o Evangelho e o representante do
Papa, pronunciaram unânime e simultaneamente a definição
proclamando que Maria é verdadeiramente Mãe de
Deus. Nestório deixou de ser, desde então, bispo
de Constantinopla.
- Quando a multidão anciosa que rodeava a Igreja
de Santa Maria Maior, onde se reunia o concílio, soube
da definição que proclamava Maria "Mãe
de Deus", num imenso brado ecoou a exclamação:
"Viva Maria, Mãe de Deus! Foi vencido o inimigo da
Virgem! Viva a grande, a augusta, a gloriosa Mãe de Deus!"
- Em memória desta solene definição,
o concílio juntou à saudação angélica
estas palavras simples e expressivas: "Santa Maria, Mãe
de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de
nossa morte".
- Provas
da Santa Escritura
- Para iluminar com um raio divino esta verdade tão
bela e fundamental, recorramos à Sagrada Escritura, mostrando
como ali tudo proclama este título da Virgem Imaculada.
- Maria é verdadeiramente Mãe de Deus.
- Ela gerou um homem hipostaticamente unido à
divindade; Deus nasceu verdadeiramente dela, revestido de um
corpo mortal, formado do seu virginal e puríssimo sangue.
- Embora, no Evangelho, Ela não seja chamada expressamente
"Mãe de Cristo" ou "Mãe de Deus",
esta dignidade deduz-se, com todo o rigor, do texto sagrado.
- O Arcanjo Gabriel, dizendo à Maria: "O santo
que há de nascer de ti será chamado Filho de Deus"
(Lc 1, 35), exprime claramente que ela será Mãe
de Deus.
- O Arcanjo diz que o Santo que nascerá de Maria
será chamado o Filho de Deus. Se o Filho de Maria é
o Filho de Deus, é absolutamente certo que Maria é
a Mãe de Deus.
- Repleta do Espírito Santo, Santa Isabel exclama:
"Donde me vem a dita que a Mãe de meu Senhor venha
visitar-me?" (Lc 1, 43).
- Que quer dizer isso senão que Maria é
a Mãe de Deus? Mãe do Senhor ou "Mãe
de Deus" são expressões idênticas.
- S. Paulo diz que Deus enviou seu Filho, feito da mulher,
feito sob a lei (Galat. 4, 4).
- O profeta Isaías predisse que a Virgem conceberia
e daria à luz um Filho que seria chamado Emanuel ou Deus
conosco (Is 7, 14). Qual é este Deus? É necessariamente
Aquele que, segundo o testemunho de S. Pedro, não é
nem Jeremias, nem Elias, nem qualquer outro profeta, mas, sim,
o Cristo, o Filho de Deus vivo.
- É aquele que, conforme a confissão dos
demônios, é: o Santo de Deus.
- Tal é o Cristo que Maria deu à luz.
- Ela gerou, pois, um Deus-homem. Logo, é Mãe
de Deus por ser Mãe de um homem que é Deus e que,
sendo Deus, Redimiu o gênero humano.
- A Doutrina
dos Santos Padres, a Tradição:
- Tal é a doutrina claramente expressa no Evangelho,
e sempre seguida na Igreja Católica.
- Os Santos Padres, desde os tempos Apostólicos
até hoje, foram sempre unânimes a respeito desta
questão; seria uma página sublime se pudéssemos
reproduzir as numerosas sentenças que eles nos legaram.
- Citemos pelo menos uns textos dos principais Apóstolos,
tirados de suas "liturgias" e transmitidas por escritores
dos primeiros séculos.
- Santo André diz: "Maria é Mãe
de Deus, resplandecente de tanta pureza, e radiante de tanta
beleza, que, abaixo de Deus, é impossível imaginar
maior, na terra ou no céu." (Sto Andreas Apost. in
transitu B. V., apud Amad.).
- São João diz: "Maria é verdadeiramente
Mãe de Deus, pois concebeu e gerou um verdadeiro Deus,
deu à luz, não um simples homem como as outras
mães, mas Deus unido à carne humana." (S.
João Apost. Ibid).
- S. Tiago: "Maria é a Santíssima, a
Imaculada, a gloriosíssima Mãe de Deus" (S.
Jac. in Liturgia).
- S. Dionísio Areopagita: "Maria é feita
Mãe de Deus, para a salvação dos infelizes."
(S. Dion. in revel. S. Brigit.)
- Orígenes (Sec. II) escreve: "Maria é
Mãe de Deus, unigênito do Rei e criador de tudo
o que existe" (Orig. Hom. I, in divers.)
- Santo Atanásio diz: "Maria é Mãe
de Deus, completamente intacta e impoluta." (Sto. Ath. Or.
in pur. B.V.).
- Santo Efrém: "Maria é Mãe de
Deus sem culpa" (S. Ephre. in Thren. B.V.).
- S. Jerônimo: "Maria é verdadeiramente
Mãe de Deus". (S. Jerôn. in Serm. Ass. B. V.).
- Santo Agostinho: "Maria é Mãe de Deus,
feita pela mão de Deus". (S. Agost. in orat. ad heres.).
- E assim por diante.
- Todos os Santos Padres rivalizaram em amor e veneração,
proclamando Maria: Santa e Imaculada Mãe de Deus.
- Terminemos estas citações, que podiamos
prolongar por páginas afora, pela citação
do argumento com que S. Cirilo refutou Nestório:
- "Maria Santíssima, diz o grande polemista,
é Mãe de Cristo e Mãe de Deus. A carne
de Cristo não foi primeiro concebida, depois animada,
e enfim assumida pelo Verbo; mas no mesmo momento foi concebida
e unida à alma do Verbo. Não houve, pois, intervalo
de tempo entre o instante da Conceição da carne,
que permitiria chamar Maria "Mãe de um homem", e a vinda
da majestade divina. No mesmo instante a carne de Cristo foi
concebida e unida à alma e ao Verbo".
- Vê-se, através destas citações,
que nenhuma dúvida, nenhuma hesitação existe
sobre este ponto no espírito dos Santos Padres. É
uma verdade Evangélica, tradicional, universal, que todos
aceitam e professam.
- Conclusão:
Dever de culto à Mãe de Deus
- Maria é Mãe de Deus... é absulutamente
certo. Esta dignidade supera todas as demais dignidades, pois
representa o grau último a que pode ser elevada uma criatura.
- Oro, toda dignidade supõe um direito; e não
há direito numa pessoa, sem que haja dever noutra.
- Se Deus elevou tão alto a sua Mãe, é
porque Ele quer que ela seja por nós honrada e exaltada.
- Não estamos bastante convencidos desta verdade,
porque, comparando Maria Santíssima com as outras mães,
representamo-nos a qualidade de Mãe de Deus sob seu aspecto
exterior e acidental, enquanto na realidade a base de sua excelência
ela a possui em seu "próprio ser moral", que influi
em seu "ser físico".
- Maria concebeu o Verbo divino em seu seio, porém
esta Conceição foi efeito de uma plenitude de
graças e de uma operação do Espírito
Santo em sua alma.
- Pode-se dizer que a mãe não se torna
mais recomendável por ter dado à luz um grande
homem, pois isto não lhe traz nenhum aumento de virtude
ou de perfeição; mas a dignidade de Mãe
de Deus, em Maria Santíssima, é a obra de sua
santificação, da graça que a eleva acima
dos próprios anjos, da graça a que ela foi predestinada,
e na qual foi concebida, para alcançar este fim sublime
de ser "Mãe de Deus": é a sua própria
pessoa.
- Diante de tal maravilha, única no mundo e no
céu, eu pergunto aos pobres protestantes: não
é lógico, não é necessário,
não é imperioso que os homens louvem e exaltem
àquela que Deus louvou e exaltou acima de todas as criaturas?
- Se fosse proibido cultuar à Santíssima
Virgem, como querem os protestantes, o primeiro violador foi
o próprio Deus, que mandou saudar à Virgem Maria,
pelo arcanjo S. Gabriel: "Ave, cheia de graça!"
(Lc 1, 28).
- Santa Isabel: "Bendita sois vós entre as
mulheres" (Lc 1, 42)
- Igualmente, a própria Nossa Senhora nos diz:
"Doravante, todas as gerações me chamarão
bem-aventurada..." (Lc 1, 48).
- Todos esses atos indicam o culto à Nossa Senhora,
a honra que lhe é devida.
- O Arcanjo é culpado, Santa Isabel é culpada,
os evangelistas são culpados, os santos são culpados
e 19 séculos de cristianismo também... Só
os protestantes não...
- Desde os primórdios do Cristianismo, como já
vimos, era comum o culto à Maria Santíssima.
- Em 340, S. Atanásio, resumindo os dizeres
de seus antecessores nos primeiros séculos, S. Justino,
S. Irineu, Tertuliano, e Orígenes, exclama: "Todas
as hierarquias do céu vos exaltam, ó Maria, e
nós, que somos vossos filhos da terra, ousamos invocar-vos
e dizer-vos: Ó vós, que sois cheia de graça,
ó Maria, rogai por nós!"
- Nas catacumbas encontram-se, em toda parte, imagens
e estátuas da Virgem Maria.
- O culto de Nossa Senhora não é um adorno
da religião, mas uma peça constitutiva, parte
integral, e indissoluvelmente ligada a todas as verdades e mistérios
evangélicos. Querer isolá-lo do conjunto da doutrina
de Jesus Cristo é vibrar golpe mortal na religião
inteira, fazê-la cair, e nada mais compreender da grandeza
em que Deus vem unir-se às criaturas.
- Nossa Senhora é Mãe de Deus: "Maria
de qua natus est Jesus!"
- Tudo está compendiado nesta frase. Maria, simples
criatura; Jesus, Deus eterno; e a encarnação "de
qua natus est"; afinal, a união indissolúvel
que produz o nascimento, entre o Filho e a Mãe, a grande
e imcomparável obra-prima de Deus.
- Ele pode fazer mundos mais vastos, um céu mais
esplêndido, mas não pode fazer uma Mãe maior
que a Mãe de Deus! (S. Bernardo Spec. B.V. c 10). Aqui
Ele se esgotou. É a última palavra de seu poder
e de seu amor!
-
(Extraído, com alguns pequenos acréscimos, do
Pe. Júlio Maria, " A Mulher Bendita", Editora "O Lutador",
1949, Manhumirim, MG). O texto sobre a Mãe de Deus foi basicamente
copiado, por se tratar de uma das mais belas páginas de defesa
da maternidade divina de Nossa Senhor que encontrei. A
Assunção Gloriosa da Mãe de Deus
- A Assunção de Nossa Senhora foi transmitida
pela tradição escrita e oral da Igreja. Ela não
se encontra explicitamente na Sagrada Escritura, mas está
implícita.
- Os protestantes acreditam que a Mãe de Deus,
apesar de ter sido o Tabernáculo vivo da divindade,
devia conhecer a podridão do túmulo, a voracidade
dos vermos, o esquecimento da morte, o aniquilamento de sua
pessoa.
- Vamos analisar o fato histórico, segundo é
contato pelos primeiros cristãos e transmitido pelos
séculos de forma inconteste.
- Na ocasião de Pentecostes, Maria Santíssima
tinha mais ou menos 47 anos de idade. Depois desse fato, permaneceu
Ela ainda 25 anos na terra, para educar e formar, por assim
dizer, a Igreja nascente, como outrora ela educara, protegera,
e dirigira a infância do Filho de Deus.
- Ela terminou sua "carreira mortal" na idade de 72 anos,
conforme a opinião mais comum.
- A morte de Nossa Senhor foi suave, chamada de "dormição".
- Quis Nosso Senhor dar esta suprema consolação
à sua Mãe Santíssima e aos seus apóstolos
e discípulos que assistiram a "dormição"
de Nossa Senhora, entre os quais se sobressai S. Dionísio
Aeropagita, discípulo de s. Paulo e primeiro Bispo de
Paris, o qual nos conservou a narração desse fato.
- Diversos Santos Padres da Igreja contam que os Apóstolos
foram milagrosamente levados para Jerusalém na noite
que precedera o desenlace da Bem-aventurada Virgem Maria.
- S. João Damasceno, um dos mais ilustres doutores
da Igreja Oriental, refere que os fiéis de Jerusalém,
ao terem notícia do falecimento de sua Mãe querida,
como a chamavam, vieram em multidão prestar-lhe as últimas
homenagens e que logo se multiplicaram os milagres em redor
da relíquia sagrada de seu corpo.
- Três dias depois chegou o Apóstolo S.
Tomé, que a Providência divina parecia ter afastado,
para melhor manifestar a glória de Nossa Senhora, como
dele já se servira para manifestar o fato da ressurreição
de Nosso Senhor.
- S. Tomé pediu para ver o corpo de Nossa Senhora.
- Quando retiraram a pedra, o corpo já não
mais se encontrava.
- Do túmulo se exalava um perfume de suavidade
celestial!
- Como o seu Filho e pela virtude de seu Filho, a Virgem
Santa ressuscitara ao terceiro dia. Os anjos retiraram o seu
corpo imaculado e o transportaram ao céu, onde ele goza
de uma glória inefável.
- Nada é mais autêntico do que estas antigas
tradições da Igreja sobre o mistério da
Assunção da Mãe de Deus, encontradas nos
escritos dos Santos Padres e Doutores da Igreja, dos primeiros
séculos, e relatadas no Concílio geral de Calcedônia,
em 451.
- Como Nossa Senhora era isenta do 'pecado original',
ela estava imune à sentença de morte (conseqüência
da expulsão do paraíso terrestre). Todavia, por
não ter acesso à "árvore da vida" (que
ficava no paraíso terrestre), Maria Santíssima
teria que passar por uma "morte suave" ou uma "dormição".
- Por um privilégio especial de Deus, acredita-se
que Nossa Senhora não precisaria morrer se assim o desejasse,
ainda que não tivesse acesso à "árvore
da vida".
- Tudo isso, é claro, ainda poderá ser
melhor explicado com o tempo, quando a Igreja for explicitando
certos mistérios relativos à Santíssima
Virgem Maria que até hoje permanecem.
- Muito pouco ainda descobrimos sobre a grandeza de Nossa
Senhora, como bem disse S. Luiz Maria Grignom de Montfort em
seu livro "Tratado da Verdadeira Devoção à
Santíssima Virgem".
- É certo que Nossa Senhora escolheu passar pela
morte, mesmo não tendo necessidade.
- Quais foram, então, as razões da escolha
da morte por Nossa Senhora?
- Pode-se levantar várias hipóteses. O
Pe. Júlio Maria (da década de 40) assinala quatro:
- 1) Para refutar, de antemão, a heresia dos que
mais tarde pretenderiam que Maria Santíssima não
tivesse sido uma simples criatura como nós, mas pertencesse
à natureza angélica.
- 2) Para em tudo se assemelhar ao seu divino Filho.
- 3) Para não perder os merecimentos de aceitação
resignada da morte.
- 4) Para nos servir de modelo e ensinar a bem morrer.
- Podemos, pois, resumir esta doutrina dizendo que Deus
criou o homem mortal. Deus deu a Maria Santíssima não
o direito (por não ter acesso à "Árvore
da vida"), mas o privilégio, de ser imortal. Ela preferiu
ser semelhante ao seu Filho, escolhendo voluntariamente a morte,
e não a padecendo como castigo do pecado original que
nunca tivera.
- Analisemos, agora, a Ressurreição de
Maria Santíssima.
- Os Apóstolos, ao abrirem o túmulo da
Mãe de Deus para satisfazer a piedade de São Tomé
e ao desejo deles todos, não encontrando mais ali o corpo
de Nossa Senhora, deduziram a sua ressurreição.
- Não era preciso ver à ressurreição
para crer no fato, era uma dedução lógica
decorrente das circunstâncias celestiais de sua morte,
de sua santidade, da dignidade de Mãe de Deus, da sua
Imaculada Conceição, da sua união com o
Redentor, tudo isso constituía uma prova irrefutável
da Assunção de Nossa Senhora.
- A Assunção difere da ascensão
de Nosso Senhor no fato de que, no segundo caso, Nosso Senhor
subiu por seu próprio poder, enquanto sua Mãe
foi assunta ao Céu pelo poder de Deus.
- Ora, há vários argumentos racionais em
favor da Assunção de Nossa Senhora. Primeiramente,
havendo entrado de modo sobrenatural nesta vida, seria normal
que saísse de forma sobrenatural, esse é um princípio
de harmonia nos atos de Deus. Se Deus a quis privilegiar com
a Imaculada Conceição, tanto mais normal seria
completar o ato na morte gloriosa.
- Depois, a morte, como diz o ditado latino: "Talis
vita, finis ita", é um eco da vida. Se Deus guardou
vários santos da podridão do túmulo, tornando
os seus corpos incorruptos, muito mais deveria ter feito pelo
corpo que o guardou durante nove meses, pela pele que o revestiu
em sua natureza humana, etc.
- Nosso Senhor tomou a humanidade do corpo de sua Mãe.
Sua carne era a carne de sua Mãe, seu sangue era o sangue
de sua Mãe, etc. Como permitir que sua carne, presente
na carne de sua santíssima Mãe, fosse corrompida
pelos vermes e tragada pela terra? Ele que nasceu das entranhas
amorosíssimas de Maria Santíssima permitiria que
essas mesmas entranhas sofressem a podridão do túmulo
e o esquecimento da morte? Seria tentar contra o amor filial
mais perfeito que a terra já conheceu. Seria romper com
o quarto mandamento da Lei de Deus, que estabelece "Honrar
Pai e Mãe".
- Qual filho, podendo, não preservaria sua Mãe
da morte?
- A dignidade de Filho de Deus feito homem exigia que
não deixasse no túmulo Aquela de quem recebera
o seu Corpo sagrado. Nosso Senhor Jesus Cristo, por assim dizer,
preservando o corpo de Maria Santíssima, preservava a
sua própria carne.
- Ainda podemos levantar o argumento da relação
imediata da paixão do Filho de Deus e da compaixão
da Mãe de Deus, promulgada, de modo enérgico,
no Evangelho, pela profecia de S. Simeão falando à
própria Mãe: "Eis que este menino está
posto para a ressurreição de muitos em Israel,
e para ser alvo de contradição. E uma espada transpassará
a tua alma" (Luc. 2, 34, 45).
- Esta tradução em vernáculo (português,
no caso) é larga. O texto latino (em latim) tem uma variante
que parece ir além do texto em português. "Et
tuam ipsius animam pertransibit glaudius" - o que quer dizer
literalmente: o mesmo gládio transpassará a alma
dele e a vossa.
- Como seria possível que o Filho, tendo sido
unido à sua Mãe em toda a sua vida, na sua infância
e na sua dor, não se unisse à Ela na sua glória?
- Tudo isso se levanta dos Evangelhos.
- A Assunção de Maria Santíssima
foi sempre ensinada em todas as escolas de teologia e não
há vós discordante entre os Doutores. A Assunção
é como uma conseqüência da encarnação
do Verbo.
- Se a Virgem Imaculada recebeu outrora o Salvador Jesus
Cristo, é justo que o Salvador, por sua vez, a receba.
Não tendo Nosso Senhor desdenhado descer ao seu seio
puríssimo, deve elevá-la agora, para partilhar
com Ela a sua glória.
- Cristo recebeu sua vida terrena das mãos de
Maria Santíssima. Natural é que Ela receba a Vida
Eterna das mãos de seu divino Filho.
- Além de conservar a harmonia em sua própria
obra, Deus devia continuar favorecendo a Virgem Imaculada, como
Ele o fez, desde a predestinação até a
hora de sua morte.
- Ora, podendo preservar da corrupção do
túmulo a sua santa Mãe, tendo poder para faze-la
ressuscitar e para levá-la ao céu em corpo e alma,
Deus devia faze-lo, pois Ele devia coroar na glória aquela
que já coroara na terra... Dessa forma, a Santíssima
Mãe de Deus continuava a ser, na glória eterna,
o que já fora na terra: "a mãe de Deus e a
mãe dos homens".
- Tal se nos mostra Maria na glória celestial,
como cantava o Rei de sua Mãe, assim canta Deus de Nossa
Senhora: "Sentada à direita de seu Filho querido"
(3 Reis, 2, 19), "revestida do sol" (Apoc. 12, 1), cercada
de glória "como a glória do Filho único
de Deus" (Jo. 1, 14), pois é a mesma glória
que envolve o Filho e a Mãe! Ele nos aparece tão
belo! E ela como se nos apresenta suave e terna em seu sorriso
de Mãe, estendendo-nos os braços, num convite
amoroso, para que vamos a Ela e possamos um dia partilhar de
sua bem-aventurança!
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